Sistemas prediais de excelência agregam uma grande vantagem competitiva aos imóveis, diz Senra
Por Daniela Barbará
A concepção e a instalação dos sistemas prediais têm se modernizado de maneira impressionante nos últimos anos. Eles têm vasta abrangência e guardam relação direta com o desempenho das edificações e o conforto dos seus usuários. “Sistemas prediais de excelência agregam uma grande vantagem competitiva aos imóveis e às construtoras e cada vez mais proporcionam ganhos na sua instalação, na sua operação e em sua manutenção”, afirmou Odair Garcia Senra, presidente do SindusCon-SP na abertura do 16° Seminário de Tecnologia de Sistemas Prediais, no dia 11 de novembro.
Senra aproveitou a oportunidade para agradecer ao coordenador do Grupo de Sistemas Prediais do Comitê de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, Renato Genioli Jr. e ao vice-presidente do SindusCon-SP e Diretor da Sinco Engenharia, Paulo Sanchez; além da assessora Maria Angélica Covelo e Silva, pela organização do seminário, que faz parte da primeira semana da construção do SindusCon-SP.
Pré-Moldados
A nossa área precisa de uma transformação porque os projetistas necessitam fazer um upgrade nos seus conhecimentos e na apresentação de soluções que possam ser realmente exequíveis. A função do projetista dentro da evolução industrial é vista como um pré-construtor, aquele que não simplesmente projeta ou coloca no papel todo o seu conhecimento técnico e respeitoso das normas, mas sim produz os projetos de produção.
Assim, Francisco Pedro Oggi, diretor da Empório do Pré-Moldado, iniciou sua palestra sobre Industrialização de componentes dos sistemas prediais. O Brasil possui uma demanda de 7, 8 milhões de domicílios, segundo Oggi, e não existe uma organização para que o setor possa aproveitar este volume de forma industrializada. “Se pensarmos no número de unidades que foram entregues até 2018 percebe-se quantas possibilidades foram perdidas se o setor estivesse organizado para produzir industrialmente. Se instalarmos em cada unidade um banheiro, deixamos de produzir 7,8 milhões de banheiros industrializados”, afirmou.
Oggi defendeu a possibilidade de em um único local fazer a junção e a montagem de vários elementos que podem ser totalmente industrializados (assembling), como os painéis, painéis de fachada, lajes, escadas, a caixa de corrida do elevador, varandas, banheiros prontos etc. Para isso, é necessário mudar a área de projetos, que não podem ser mais no padrão 2D e, sim as ferramentas do BIM. Segundo ele, com uma primeira avançada na industrialização no processo até a parte de estrutura, alvenaria e cobertura, soma-se 36% de industrialização da construção. “E se nós acrescentarmos também elementos componentes na parte de instalações chegaremos em 56% de um total de 90%. Quer dizer, estamos muito próximos de uma industrialização plena”, afirmou.
Para isso, Oggi demonstrou os benefícios dos PODs com banheiros, lavabos, cozinhas e copas prontas. “É mais fácil administrar um item inteiro que já tem revestimento, louças, metais, tubulações, torneira, cotovelo; um único item com um único fornecedor, evitando assim desperdício de mão de obra e de tempo”. Da mesma forma, com o uso de Racks que chegam prontos na obra e somente são montados e conectados nos sistemas de telefonia, eletricidade e afins.
Caso prático – Sinco
Ao apresentar o painel benefícios do BIM em projeto de sistemas prediais para a execução da obra, a arquiteta e urbanista, gerente de projetos e gerente BIM da Sinco Engenharia, Priscila de Castro Ribeiro, apresentou o case do Cantareira Norte Shopping, em um terreno de 75 mil metros quadrados. “Juntos os departamentos de projetos, comercial, incorporadora e investidores desenvolveram um estudo de massa com metodologia BIM para definir o mix do shopping e sua área bruta locável”, afirmou.
Desse estudo realizado em 2014 foi criado um projeto de arquitetura todo em 3D destinado ao centro comercial com 220 lojas, sendo 6 lojas âncoras, 19 fast food, 4 Mega Lojas, ampla praça de alimentação, 5 salas de cinema, teatro, área de games, e estacionamento para mais de 1300 veículos.
Entre os problemas listados por Priscila estão: a falta de conhecimento técnico pelos profissionais e fornecedores entre outros, a cultura do mercado ainda era na época desenvolver projetos em apenas 2 D, baixa assertividade em compatibilização, falta de padronização de projetos de arquitetura e complementares, desperdício de tempo, aumento de custos com retrabalho, prazos estipulados e falta de integração entre a equipe de projeto e demais áreas.
A empresa viu o desafio como oportunidade e adotou o BIM como ferramenta de gerenciamento de projetos. Para isso, o departamento BIM elaborou um caderno de modelagem com o escopo e diretrizes específicas para servir de padronização a todos os projetistas garantindo a comunicação e a assertividade na compatibilização entre as disciplinas envolvidas em um ambiente integrado.
“O uso do BIM como ferramenta de gestão foi ousado e certo para um empreendimento desse porte. A importância de unir de forma integrada todas as etapas era um grande desafio”, afirmou a arquiteta, destacando outros pontos positivos da decisão: pensar na obra antes da execução para poder antever os problemas referentes ao projeto e suas interferências como assertividade nos quantitativos do orçamento e suprimentos, planejamento para uma obra em 18 meses de execução, logística, controle de execução de obra e passagem para a equipe de manutenção.
Como solução a empresa adotou encontros periódicos entre os membros de todas as áreas para análises do projeto e tomada de decisões, além de utilizar um drone para fazer imagens do andamento da obra. O departamento de planejamento realizou mais de 650 horas em reunião elaborando 6 baselines diferentes para atingir o planejamento ideal, seguindo a premissa de atender o prazo estipulado para a obra.
Como resultado, a íntegra do projeto contou com 97% de assertividade na compatibilização em projetos liberados para execução de obra dentro do prazo, zero de aditivo de contrato com os projetistas, aderência aos padrões de qualidade pré-estabelecidos, validando o projeto implementado, passagem para o facility do empreendimento com as built exato e detalhado garantindo uma manutenção rápida e prática, melhoria da comunicação interna com fornecedores e obra. “As tomadas de decisões foram rápidas, conseguimos antecipar os possíveis problemas e tivemos o aumento de 24% da presença da equipe em campo como ferramenta de gestão”, destacou a urbanista.
Em suma, o uso do BIM representou zero aditivos financeiros por problemas de projeto em obra e possibilitou atingir os objetivos propostos dentro do prazo, custo e qualidade.
Caso prático – Matec
Marcelo Pulcinelli, vice-presidente de Engenharia da Matec Engenharia e Construções, detalhou as instalações da empresa BRF na cidade de Londrina (PR) como um grande centro logístico refrigerado com foco principal em manutenção e pós-obra, realizado com a tecnologia BIM, envolvendo um centro de distribuição refrigerado, prédio administrativo, refeitório, portarias, apoio para caminhoneiros e prédios de utilidades em uma área construída de 23,700 metros quadrados.
Entre as principais particularidades do projeto do primeiro centro de distribuição refrigeração com certificação Leed Certified estavam:
- Galpão 100% refrigerado,
- Altura de estocagem acima do padrão de mercado,
- Sistema de aquecimento de piso,
- Sistema de reuso de água para utilização em processo,
- Refrigeração com fluídos secundários e sistema de combate a incêndio Quell.
- Toda a implantação das células foi feita de forma espaçada porque o projeto prevê a possibilidade de expansão de todos seus módulos.
- Entre os desafios climáticos de sua localização estão ventos muitos fortes e oscilações de temperaturas.
- Exclusivamente nas áreas dos banheiros dos funcionários foram instados sistema fotovoltaicos para os chuveiros.
- As áreas dos estacionamentos receberam tomadas para os carregamentos dos caminhões porque como eles são resfriados, precisam manter a temperatura interna para manter a qualidade quando forem ser abastecidos com as mercadorias.
- Toda a água de chuva é captada e direcionadas para reservatórios para ser utilizada 100% na refrigeração, que tem elevado consumo de água e energia.
- A central térmica está localizada no coração da refrigeração onde ficam os compressores. Isso foi definido com base nos ventos porque os fluidos secundários envolvem amônia de 5% a 7%, o que requer cuidados especiais e em caso de vazamento os ventos levam para fora da construção.
Pulcinelli reforçou que o site é 100% automatizado e controlado por uma sala de dois metros quadrados. “Todos os equipamentos, temperaturas, consumo, ventilação são monitorados constantemente”, afirmou concluindo sua palestra BIM no projeto de sistemas prediais para atendimento a requisitos de operação da edificação.
Projetos elétricos
No Painel: Benefícios do BIM para os Sistemas Prediais do Projeto à Operação da Edificação, que contou com a coordenação de Paulo Sanchez, vice-Presidente do SindusCon-SP e diretor da Sinco Engenharia, Brazil Alvim Versoza, diretor Executivo da Engebrazil Projetos Elétricos e de Telecomunicações detalhou o pioneirismo da empresa no trabalho com o BIM nas últimas décadas. “O processo do BIM é um caminho sem volta. Recomendo aos profissionais do setor que comecem logo a utilizar suas ferramentas porque esse é um caminho único e necessário”, afirmou.
Para isso, a mudança de pensamento é o primeiro passo no processo. “Com o CAD criávamos um modelo mental do projeto e por onde as instalações iriam passar e depois reproduzíamos esse modelo mental no papel. Nessa conversão de modelo mental para o papel a chance de acontecer vários erros é grande. Já com o BIM cria-se um protótipo realmente do empreendimento e extraem-se todas as informações da gestão da obra e futura manutenção da obra”, explicou Arthur B. Stersa Versoza, diretor de Projetos e Tecnologia da Engebrazil Projetos Elétricos e de Telecomunicações.
Segundo ele, o uso de 3D facilita a verificação das instalações sendo possível analisar as interferências de estruturas e de arquitetura de cada projeto. Além disso, é necessária uma reavaliação dos processos internos das empresas. “É possível afirmar que tanto o CAD quanto o BIM requerem processos descritos e internalizados na equipe para um aumento de produtividade, porém para o BIM são indispensáveis os processos bem delimitados e bem assimilados pela equipe”, afirmou.
O uso do BIM requer uma maior sinergia com os demais projetistas especialmente para as análises de arquivos e especialmente o processo de compatibilização, que acelera o processo e deixa o projeto consistente em todas as suas fases. Em relação às ferramentas, Stersa traçou um importante comparativo técnico e afirmou que “a grande vantagem do REVIT é que ele tem uma capacidade de personalização”. Para os contratantes, o engenheiro aconselhou “ser muito exigente não significa ser eficiente. O contratante tem que saber exatamente o que vai precisar para obra para cobrar do seu contratado, no caso, do projetista”, afirmou, explicando que é preciso que ambos (projetista e construtora) se conheçam e troquem informações, para que as premissas de projeto sejam discutidas.
Perdeu? Assista
Todas as palestras dos seminários da Semana da Construção estão disponíveis gratuitamente no canal do SindusCon-SP no Youtube.
Patrocinaram o evento: Atlas Schindler, Gerdau e Saint-Gobain.
Apoio: ABCIC – Associação Brasileira de Construção Industrializada de Concreto, Abece – Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural, Abesc – Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem, Abrava – Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento, ABNT, Abrinstal – Associação Brasileira pela Conformidade e Eficiência das Instalações, Apemec – Associação de Pequenas e Medias Empresas de Construção Civil do Estado de São Paulo , Apeop – Associação para o Progresso de Empresas de Obras de Infraestrutura Social e Logística, ABNT CB-002 – Comitê Brasileiro da Construção Civil, CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Ibracon – Instituto Brasileiro de Concreto, Fiabci-Brasil, Secovi -SP – Sindicato da Habitação, Sindicel – Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo, Sindinstalação – Sindicato da Indústria de Instalações Elétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias do Estado de São Paulo.