Sistemas prediais: concepção estratégica nasce nos projetos 

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Sistemas prediais: concepção estratégica nasce nos projetos 

Seminário destaca importância de construtores e incorporadores trabalharem juntos com projetistas em seu desenvolvimento 

Yorki Estefan, presidente do SindusCon-SP

É necessário que incorporadores e construtores trabalhem juntos no desenvolvimento dos projetos. E é preciso redesenhar a forma de relação destes profissionais com o projetista, ajudando na concepção dos sistemas prediais. 

Estas foram algumas das conclusões do primeiro painel do 19º Seminário de Tecnologia de Sistemas Prediais, realizado pelo SindusCon-SP, por meio do seu CTQ (Comitê de Tecnologia e Qualidade) e de seu Comasp (Comitê de Meio Ambiente), em 22 de junho, com a participação de mais de 150 pessoas presentes e online. 

Abrindo o evento, Yorki Estefan, presidente do SindusCon-SP, afirmou que, por meio do evento, a entidade cumpre “uma das nossas missões mais importantes: agregar valor às empresas associadas”. Ele também relatou algumas recentes conquistas do SindusCon-SP, como um tratamento tributário diferenciado para a construção civil na reforma tributária e o reajuste anual dos contratos da faixa 1 do programa Minha Casa, Minha Vida. 

Vice-presidente Financeiro do SindusCon-SP, Renato Genioli

“Todas estas ações se devem à dedicação voluntária de dirigentes do SindusCon-SP e membros dos nossos comitês”, destacou Estefan, agradecendo aos organizadores do seminário: Lauro Ladeira, Marcelo Guaranha e Carlos Barbara, membros do CTQ, com apoio do coordenador do Comitê, Rodrigo von Uhlendorff, e do vice-presidente Financeiro da entidade, Renato Genioli. 

Genioli lembrou as conquistas em sistemas prediais, que ocorreram nos 20 anos de realização do Seminário. Destacou a importância de se falar mais em qualificação do que em inovação para a eficácia desses sistemas. E manifestou a expectativa de que todas as entidades do setor se unam pela qualidade. 

Coordenador do CTQ, Rodrigo von

Rodrigo von afirmou ter sido consenso, na recente visita da Missão Técnica Empresarial a Miami, que no Brasil se faz tudo o que lá foi visto. E manifestou a esperança de que a execução dos sistemas seja feita com mais eficiência e viabilidade. 

Lauro Ladeia agradeceu à consultora Maria Angélica Covelo e Silva pela participação na preparação do evento, além de outros membros do SindusCon-SP, dos palestrantes e dos pactrocinadores. Destacou a importância do evento para a capacitação do mercado e manifestou a convicção de que o seminário proporcionará contribuições a todos os participantes. 

Desafios dos projetistas 

Fabio Pimenta, diretor técnico da Projetar Engenharia, discorreu sobre a importância da realização de um bom projeto para a execução do contrato, a fim de se evitarem prejuízos em retrabalho e danos no pós-obra, como incêndios provocados por falhas elétricas ou vazamento de gás. 

Segundo o engenheiro, as empresas de projeto têm enfrentado o desafio de se manterem atualizadas com as mudanças legislativas e normativas, como a recente Norma de Garantias de Edificações. Também precisam projetar sistemas em empreendimentos mais complexos do que os de antigamente, com mais unidades residenciais e não residenciais, e transições nos sistemas prediais.  

Veículos elétricos, geração fotovoltaica, e outras inovações também representam desafios aos projetistas, além de dezenas de outros itens, como acessibilidade, aquecimento solar e conforto lumínico, comentou o projetista. 

Com isso, ele listou dificuldades comuns aos projetistas como (em ordem crescente de preocupação relatada por associados da Abrasip): problemas de comunicação digital falha e demorada; complexidade dos projetos; dificuldades com a equipe; atividades tarefas extras não previstas; reengenharia após a entrega do projeto por premissas que poderiam ter sido comunicadas logo no início da concepção; valor da remuneração; planejamento, prazos, definição e cumprimento das etapas de projeto estabelecidas (nunca se sabe quando o cronograma termina) e falta de coordenação dos projetos – contratante não consegue acompanhar, decisões são tomadas por pessoas pouco qualificadas, raramente há profissionais que juntam projeto e execução, ocasionando custos imprevistos. 

Além disso, prosseguiu, reduziu-se o número de projetistas de empreendimentos imobiliários em função da complexidade das edificações, e aumentaram os de habitação popular. Poucos atentam para a Norma de Desempenho, e consideram que os projetos não são aproveitados em sua totalidade. 

Em consequência, afirmou, o processo de projetar está se degradando. Contratantes querem mais, empresas de projeto podem oferecer mais e isso não está acontecendo. Em sua opinião, são necessários: um consenso do mercado de que é preciso investir em projetos; rediscutir a forma de seu desenvolvimento; estabelecer e cobrar o desempenho dos sistemas prediais; definir, informar e fazer cumprir planejamentos e cronogramas claros e consistentes; definir qualificação e formação mínima dos profissionais; estabelecer forma de relacionamento comercial saudável; desenvolver formas de promover o desenvolvimento técnico de profissionais; e incentivar a inovação. A seu ver, o processo deve ser amplo, envolver todos os aspectos e e ir se aprimorando, o que trará benefícios enormes para o custo da construção. 

Segundo o palestrante, o coordenador de projetos antigamente era o maestro e hoje é a pessoa que passa na frente da orquestra e coloca as partituras. Comentou que o escritório de projetos não pode se comprometer em manter o mesmo profissional em um projeto que demora anos para ser concluído. 

Case inovador 

Roberto Pastor Jr., diretor de Educação do SindusCon-SP e diretor técnico da Trisul, mostrou um case inovador de paredes modulares em drywall, modeladas em BIM e fabricadas pela Ambar Tech/Smart Pods, e compatibilizadas com os sistemas hidráulicos e elétricos, na obra do empreendimento Side, no bairro da Barra Funda, em São Paulo, com 594 unidades em 4 torres. 

Após a modulação, a Ambar confeccionou um protótipo, realizou a fabricação e planejou a entrega de acordo com o andamento da obra. Cores distintas identificavam os pallets para os andares e as unidades de cada torre. Um cronograma foi realizado para compatibilizar o lançamento de concreto com a entrega dos pallets e dos demais materiais de construção. As paredes foram instaladas de acordo com o projeto, mediante a identificação das mesmas e com uma técnica que utiliza laser de mão e telescopia. Na sequência, fixavam-se a instalação elétrica aérea, as instalações hidráulicas, as interligação e se realizavam os testes, seguindo o fechamento da parede de drywall e a execução do forro. Com isso, reduz-se o tempo de 5 semanas pela metade, ou até menos, e a obra será entregue no prazo, com zero de resíduos na instalação dos sistemas. 

Segundo Pastor, o processo de projeto ficou muito complexo e o que agravou este cenário foi a instabilidade econômica, com a crise iniciada em 2016, retirando profissionais da atividade e resultando na falta de mão de obra qualificada em arquitetura e engenharia, num momento em que a indústria da construção está bem ativa. 

A arquiteta Luciana Hergo Delfino, da Ambar Tech, mostrou as fábricas que produzem as paredes e os kits, com a preocupação de atendimento às normas de drywall e frames e de desempenho. Na obra da Barra Funda, montavam-se as paredes em um pavimento de 400 m² por dia, com 6 pessoas, e modulação de 40 em 40. Tudo já vem em kits para a montagem, a partir de um manual simples e de fácil entendimento. A produtividade aumenta, com economia de 32% no tempo gasto na instalação e redução de 11% no custo. 

Para Luciana, as ferramentas são apenas auxiliares, o importante é o conhecimento do projetista. Seguiram-se os debates, com o vice-presidente Maurício Bianchi, vice-presidente do SindusCon-SP, e Carlos Barbara, do CTQ, com moderação de Renato Genioli. 

Genioli apontou a necessidade de preparação dos instaladores e realização de ajustes, com os projetos precisando seguir a legislação e normas. Manifestou também a preocupação com o desafio crescente de atrair novos profissionais para projeto e execução das obras, sem o que será difícil avançar na industrialização da construção.  

Bianchi, que coordena o Grupo de Trabalho de Projetos do CTQ, afirmou que cabe ao setor mudar e atrair novos profissionais para o setor de projetos. Disse ser necessário aproximar mais projetistas de construtoras, e de rever o processo do projeto como um todo. Segundo ele, o conteúdo, e não o preço do projeto, é o grande problema. Em sua opinião, o SindusCon-SP pode se juntar com a Abrasip e outras entidades, realizando um novo modelo de realizar o projeto, não se esquecendo dos instaladores, parceiros necessários e fundamentais, a seu ver. Apontou como dificuldade adicional o longo tempo que vai desde a aquisição do terreno, o projeto e o licenciamento até a execução da obra. 

Barbara apontou as pressões por rapidez, um desafio a mais para a coordenação de projeto, que requer um profissional experiente que tenha passado por todas as fases da obra. Comentou que só agora alguns incorporadores começam a compreender que a concepção do projeto precisa agregar conhecimento de construção, assistência técnica e retroalimentação. Além disso, há falta de interesse em formação de novos profissionais, os jovens entrantes são impacientes e ainda não completaram sua formação, dificultando uma boa coordenação de projeto. Daí que muitas vezes o projetista não tem com quem conversar sobre o projeto, resultando em projetos mal concebidos. É preciso que a concepção tenha a compreensão dos custos reais, o que só pode ser feito por quem tenha a competência técnica para tanto. 

Francisco Graziano, professor e calculista, apontou a necessidade de se realimentar a incorporadora com elementos de realidade. Em relação à dificuldade de prever preços por longos períodos, propôs se pensar um novo formato de contrato, com planejamentos financeiros por fases.  

Confira a segunda parte do evento aqui.

O que você precisa saber.
As últimas novidades sobre o mercado,
no seu e-mail todos os dias.

Pular para o conteúdo