SindusCon-SP mostra desafios e tendências em sistemas prediais

Daniela Barbará e Rafael Marko

Por Daniela Barbará e Rafael Marko

SindusCon-SP mostra desafios e tendências em sistemas prediais
Odair Senra, presidente do SindusCon-SP e Renato Genioli Jr., Coordenador do Comitê de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP
Odair Senra, presidente do SindusCon-SP e Renato Genioli Jr., coordenador do Comitê de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP

A indústria da construção precisa estar atenta às novas tendências de modernização dos sistemas prediais e aos desafios para sua correta instalação e manutenção. Esta foi uma das mensagens transmitidas por Fábio Villas Bôas, coordenador do Comasp (Comitê de Meio Ambiente) e coordenador adjunto do CTQ (Comitê de Tecnologia e Qualidade) do SindusCon-SP, no 15º Seminário Tecnologia de Sistemas Prediais, realizado por meio destes comitês em 22 de agosto, e que lotou o auditório da entidade.

Entre estas tendências, Villas Bôas elencou a simulação em uso nos projetos de empreendimentos, proporcionada pelo BIM (Modelagem da Informação da Construção); novas tipologias de instalação para evitar quebras e vazamentos; novos materiais, alguns autorregeneráveis; edifícios super-altos que exigirão providências para a equalização da distribuição de água (há dois com 50 andares em fase de aprovação em São Paulo); kits industrializados; novas soluções em fontes alternativas de energia, como sistemas fotovoltaicos instalados em fachadas de vidro; integração de controles de automação com monitoramento pelo celular; IoT (Internet das Coisas); abertura de portas por reconhecimento facial ou biometria; sistemas de distribuição de excesso de energia de um empreendimento para habitações vizinhas; gestão de lixo a vácuo e sistemas eficientes de retrofit.

Na abertura do evento, Odair Senra, presidente do SindusCon-SP, destacou a qualidade crescente dos sistemas prediais, tendo São Paulo na liderança das inovações; Jorge Batlouni, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do sindicato, chamou a atenção para o desafio de as empresas se atualizarem neste momento de mudanças e de aumento de lançamentos imobiliários, estando preparadas para inovações que reduzam custos e elevem a produtividade.

Renato Genioli, coordenador do CTQ, destacou a importância da série de 15 seminários de sistemas prediais na agregação de valor e inovação às construtoras. Renato Soffiatti Mesquita de Oliveira, membro do CTQ e coordenador do seminário, ressaltou que o evento cumpre com a missão de disseminar as inovações nesses sistemas, com ênfase na quantidade crescente de tecnologia neles embarcada. Milton Bigucci Jr., representando o Secovi-SP (Sindicato da Habitação), enfatizou a necessidade de incorporadoras estarem antenadas com as inovações e as administradoras de condomínio atualizadas com a operação e manutenção das mesmas.

Água quente e fria

Em sua apresentação, Sergio Gnipper (Gnipper e Engenheiros Associados) apresentou as novidades da Norma Técnica 5626 – Sistemas Prediais de Água Potável Fria e Quente, Projeto, Execução, Operação e Manutenção –, que deverá ser publicada nas próximas semanas. Ele foi o secretário do Comitê de Estudos da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que desde 2012 vem trabalhando na elaboração da norma, sob a presidência de Carlos Barbara, membro do CTQ.

Segundo Gnipper, entre as inovações, a NBR 5626 manterá requisitos, porém com menos prescrições numéricas e maior responsabilidade para os projetistas daqueles sistemas. Haverá mudanças em relação a itens como alimentadores, reservatórios, dispositivos de controle de nível, extravasores, meios para permitir inspeção e manutenção, sempre com vistas à eficiência e à manutenção da potabilidade da água.

Virginia Dias de Azevedo Sodré   da Infinity Tech Engenharia e Meio Ambiente
Virginia Dias de Azevedo Sodré
da Infinity Tech Engenharia e Meio Ambiente

Na sequência, Virginia Dias de Azevedo Sodré (Infinity Tech Engenharia e Meio Ambiente) mostrou o trabalho que vem sendo feito para favorecer a eficiência hídrica com segurança sanitária, na NBR 16782 – Conservação e Uso de Água em Edificações – e na NBR 16783 – Uso de Fontes Alternativas de Água Não Potável.

Ela enfatizou a necessidade de integração de projetos de arquitetura, hidráulica e ar condicionado para evitar desperdícios, estudo de viabilidade para definição do projeto, balanceamento entre oferta de demanda de água potável e não potável, gestão das fontes desses líquidos, especificações de chuveiros eficientes, definição de critérios para segurança hídrica e cuidados na operação e na manutenção.

A seguir, Celso Doná, gerente de Engenharia de Ar Condicionado da LG Electronics, apresentou as diversas vantagens comparativas em eficiência térmica e energética dos sistemas daquela empresa. Ele apresentou dados mostrando os benefícios dos sistemas a gás e os cuidados a serem tomados no desenvolvimento dos projetos, na instalação e na manutenção dos equipamentos. Também anunciou estar disponível o aplicativo LG CAC Partner, para auxiliar na elaboração dos projetos e na instalação dos sistemas de refrigeração. E lembrou que a empresa mantém uma centro de treinamento para instaladores.

Tempos modernos

Na mesa redonda que se seguiu, Alberto Fossa, diretor executivo da Abrinstal (Associação Brasileira pela Conformidade e Eficiência das Instalações), queixou-se da demora da ABNT em elaborar ou revisar normas, no momento em que o consumidor moderno exige soluções inovadoras, rápidas e eficientes no uso dos sistemas prediais.

Painel da manhã no 15º Seminário Tecnologia de Sistemas Prediais
Participantes do painel da manhã no 15º Seminário Tecnologia de Sistemas Prediais no auditório do SindusCon-SP

Exemplificando com o desempenho dos sistemas de água quente e fria, ele alertou para o risco de diminuição dos regramentos das normas técnicas, sem a correspondente necessidade de se monitorar o desempenho.

Fossa considerou o momento como sendo de grandes oportunidades para se responder com simplicidade às demandas do usuário final. Diante da expansão da demanda por energia elétrica, preconizou soluções como geração eólica localizada para abastecer conjuntos habitacionais das suas proximidades, e habitações que gerem energia suficiente para atender todas as suas necessidades. Criticou o que chamou de falta de articulação na cadeia produtiva da construção para alcançar esses alvos e lamentou as dificuldades na formação de pessoal especializado em instalações de sistemas prediais.

Eficiência energética

No painel sobre o panorama das tecnologias disponíveis e tendências, a coordenador técnica do Comasp, Lilian Sarrouf apontou o papel da sustentabilidade como ferramenta de marketing. “Destacar os investimentos em eficiência energética em um empreendimento imobiliário é um benefício para a imagem da construtora e para os seus clientes, que buscam a redução de custo tanto na aquisição como na operação, e para os fornecedores”, afirmou. Segundo ela, eficiência energética representa ter que pensar no todo e na solução completa para todo o edifício. “Em 2050 todos os edifícios devem operar como net zero carbono”, complementou.

Em relação às tendências, Lilian destacou as regulamentações que envolvem as normas técnicas (em especial as NRs 15.220 e 15.215), o Procel Edifica, que promove o uso racional da energia elétrica em edificações desde sua fundação, as legislações sobre eficiência energética em Habitação de Interesse Social (HIS) e as mudanças climáticas. “O reconhecimento da importância das mudanças climáticas norteará as políticas públicas, assim como decisões de investidores e consumidores que impulsionarão a busca por eficiência energética e no uso de recursos, inovação no modelo de negócios e parcerias, uso de energias e matérias primas renováveis e transparência corporativa”.

Lilian ressaltou que é necessário nos manter alertas para a velocidade das mudanças. “Temos atualmente edifícios de 2 a 7 anos passando por retrocomissionamento e soluções que ainda precisam passar por avaliações porque vivemos em regiões que passam por apagões, por exemplo. Ou mesmo casos de hackers que podem acessar os sistemas de dados e causar enormes transtornos. Então, as soluções apresentadas devem avaliar essas possibilidades a fim de nos preparar para responsabilidades que não sabíamos que teríamos”.

Cidades Inteligentes e cogeração

Ronaldo Andreos, consultor de negócios sênior da Comgás, mostrou a era das cidades inteligentes. “Cada Smart City conta com suas especificidades, mas todas têm o objetivo comum de prover aos seus moradores uma relação mais fluida, barata, sustentável e inteligente”, afirmou.

“Enxergamos em breve edifícios gerando sua própria energia, contribuindo com a matriz energética das cidades e gerando maior eficiência, segurança e sustentabilidade para os consumidores e suas comunidades”, ressaltou Andreos, destacando que “ainda em 2019 teremos 12 usinas em operação, em torno de 746 kw de potência instalada gerando aproximadamente 429.696 Kwh por mês, o que equivale ao consumo de 2.700 residências”.

O executivo da Comgás destacou que os sistemas de cogeração em edifícios residenciais demandam análise de demanda térmica, sistemas centralizados de água quente, espaços para a locação do gerador e ambiente adequado para a instalação dos equipamentos.

José Jorge Chaguri Junior, sócio diretor da Chaguri Consultoria e Engenharia de Projetos, também participou da apresentação sobre C.H.P. – Cogeração a gás natural aplicada aos novos empreendimentos.

Novas tecnologias

Edmilson Moutinho dos Santos, professor associado do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), destacou as novas tecnologias contribuindo na eficiência energética. Segundo ele, os investimentos globais em edifícios energeticamente eficientes têm ficado estáveis ou mesmo declinado a menos de US$ 140 bilhões em 2018: muito aquém do necessário. As despesas diminuíram particularmente na Europa (incluindo Alemanha), como resultado em grande parte da significativa diminuição do apoio governamental a medidas de eficiência energética (declinantes orçamentos governamentais para subvenções e empréstimos para promover lares energeticamente eficientes). “Novas construções e renovações continuam a ser um dos principais impulsionadores da eficiência energética em edificações”, ressaltou.

Para o professor, o Brasil ainda precisa lidar com os desafios internos da dominância dos investimentos em Upstream Oil & Gas e Pré-sal, descasamentos fundamentais a serem discutidos envolvendo óleo e gás natural, redução do preço do gás natural e a promoção da geração elétrica renovável com tarifas baixas. “Apesar do histórico do Conpet, Procel e da Aneel, os resultados brasileiros com eficiência energética são pífios e relativamente declinantes em relação ao mundo”, afirmou.

Transporte

“O Brasil tem a mesma tecnologia de ponta oferecida no mundo com mais de 10 mil patentes para elevadores e escadas rolantes”, afirmou José Luís Mundim Soares, gerente de Marketing e Gestão de Vendas da Elevadores Atlas Schindler. A empresa, que desenvolve sistemas para fazer gestão de tráfego das pessoas nas edificações, atua também com soluções para grandes alturas. “Disponibilizamos a nossa tecnologia também para a tendência internacional, que se firma por aqui também, de edificações multiuso com pavimentos residenciais, comerciais, funcionais e de entretenimento. Tudo dentro da mesma edificação”, afirmou.

Soares destacou em sua apresentação o “Yachthouse Residence Club, em Balneário Camboriú, que será o maior empreendimento da América Latina, com 81 andares em cada uma das suas duas torres. “Para transportar os moradores, funcionários e convidados, serão instalados elevadores e escadas rolantes altamente tecnológicos que se locomoverão com segurança com a maior velocidade possível”, afirmou.

Educação

O evento contou também com a apresentação do case de inovação do novo edifício do Insper em São Paulo. O conceito do prédio inteligente contou com três pilares: sensores, que medem e transmitem variáveis, automação, com conectividade, conforto e integração, que responde por controle e otimização de recursos.

O prédio tem 15.775 metros quadrados de área construída, divididos em 6 andares, com 15 salas de aula, 8 laboratórios, 3 subsolos, espaço de coworking, área de convivência e um tobogã. “Para gerar um salto de qualidade num empreendimento, precisamos de mais investimento e alocar e gerir melhor os recursos investidos. Não adianta investir mais se os recursos não forem direcionados para o que faz a diferença. Acredito que tecnologia pode ajudar a aprimorar tanto o modelo de gestão quanto a qualidade de edifícios”, afirmou Bruno Cruz, gerente de Atendimento e Service Desk do Insper.

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