Construcarta Conjuntura – A taxa de câmbio: curto versus longo prazo
Por Redação SindusCon-SP
A taxa de câmbio é, juntamente com a bolsa de valores, um dos “termômetros econômicos” mais sensíveis à conjuntura econômica e política. Ambos os indicadores reagem com grande rapidez aos movimentos de curto prazo, incluindo aqueles originados na esfera política nacional e internacional.
Confirmando essa característica, tanto câmbio quanto bolsa reagiram nos últimos dias a dois conjuntos de fatores. No front externo, o acirramento da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, EUA e China. Ainda que o componente retórico desse conflito seja elevado, o fato concreto é que o governo Trump tem tomado medidas restritivas de comércio provocando a elevação das incertezas relativas ao crescimento da economia mundial nos próximos anos. Por conta disso, a aversão ao risco nos mercados internacionais aumentou e, como consequência, o fluxo de capitais de curto prazo ingressando no Brasil se tornou mais escasso.
No front interno, apesar dos esforços do ministro da Economia em convencer os parlamentares sobre a urgência da aprovação da reforma previdenciária, o Executivo tem se mostrado pouco competente em administrar suas relações com o Congresso. Como resultado, uma vez mais, agrava-se a incerteza quanto ao andamento dessa e de outras medidas necessárias para dar um rumo claro à condução da economia do País. E esse ambiente contribui, dentre outros reflexos, para o mau desempenho do Ibovespa nos últimos dias.
A síntese desses movimentos foi a ultrapassagem da marca cambial psicológica de R$ 4 por dólar na última quinta-feira. No mesmo dia, o índice da Bolsa de São Paulo, em baixa, aproximou-se de outra barreira simbólica: os 90 mil pontos.
Se o clima de tensão é inegável, também é verdade que não pode tomar decisões de política econômica baseadas nesses indicadores tão voláteis. Afinal, as contas externas brasileiras dão fundamento a uma alta sustentada da taxa de câmbio? Ou, como já ocorreu no ano passado, no auge da incerteza eleitoral, a escalada do dólar tende a ser revertida.
O Brasil tem hoje um nível muito confortável de reservas internacionais: são US$ 384 bilhões, o equivalente a 354% da dívida externa de curto prazo. O ingresso líquido de investimento estrangeiro direto (capital produtivo) foi de quase US$ 90 bilhões, o equivalente a 5% nos doze meses encerrados em março, último dado disponível. Naquele mês, comparando-se com março de 2018, esse indicador apresentou alta de 28%. Por fim, o déficit em transações correntes, outro fundamento relevante das contas externas, tem se mantido desde o início do ano próximo a 0,9% do PIB, patamar bastante confortável frente aos ingressos capital produtivo.
Esses números sugerem que as “incursões” que a taxa de câmbio tem feito para além da fronteiro dos R$ 4,00 são o fruto natural de movimentos de aversão ao risco. No entanto, não existe uma condição geral de escassez cambial que justifique a permanência do dólar nesses patamares. Esses devem ser os fundamentos das expectativas cambiais de mercado expressas no Boletim Focus que continuam projetando a taxa de câmbio para o final deste ano e do próximo em patamares próxima a R$ 3,80 por dólar. Apesar de algum ajuste para cima nessas expectativas, observado nas últimas semanas, nota-se uma relativa estabilidade quando se comparam as projeções cambiais com aquelas relativas ao PIB, por exemplo.
Em resumo: a volatilidade cambial e da bolsa deve continuar até que o ambiente político interno e externo melhore. Mas os fundamentos das contas externas inspiram mais tranquilidade do que aquela mesma volatilidade sugere.
As informações são do Construcarta Conjuntura nº 691.
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