Construcarta Conjuntura: a atividade econômica não desenvolveu a “tração” esperada

Redação SindusCon-SP

Por Redação SindusCon-SP

Construcarta Conjuntura: a atividade econômica não desenvolveu a “tração” esperada

É bem conhecido o gosto dos economistas pelas analogias físicas. Termos como “forças de mercado” e “inércia inflacionária” já são parte do jargão profissional há muito tempo. Mas, recentemente, o Banco Central fez uso de mais um termo vindo da Mecânica. Em dezembro passado, a ata da última reunião do Copom de 2019 mencionava o termo “tração”. A mensagem era de que, na leitura feita pela diretoria do Bacen, a atividade econômica estava se acelerando, ganhando ímpeto ou simplesmente “desenvolvendo maior tração”.

Ocorre que os dados divulgados em fevereiro, relativos a dezembro e, portanto, também ao ano de 2019 fechado, estão mostrando que aquela percepção do Copom não estava totalmente correta. O setor de serviços, por exemplo, responsável por mais de 60% da demanda agregada na economia brasileira, registrou queda real de 0,4% em dezembro, já livre de sazonalidade, fechando o ano com avanço de 1% frente a 2018. Algo parecido ocorreu com o volume de vendas no varejo: queda dessazonalizada de 0,1% em dezembro e alta acumulada de 1,8% frente ao ano anterior.

Esses números também foram na contramão de expectativas divulgadas pelo Ministério da Economia em meados do segundo semestre do ano passado no sentido de que teríamos o melhor Natal desde 2015. Os níveis de vendas de fato se recuperaram em uma perspectiva de mais longo prazo, mas as quedas registradas no mês de dezembro foram frustrantes.

O quadro mais dramático continua por conta da indústria. A produção recuou 1,1% no acumulado de 2019, depois de dois anos seguidos de crescimento em 2017 (2,5%) e 2018 (1%). Em linha com serviços e comércio varejista, o mês de dezembro foi de queda na produção industrial, tanto na comparação dessazonalizada com novembro (-0,7%) quanto em relação a dezembro de 2018 (-1,2%).

Voltando ao Banco Central, tamanha debilidade da atividade econômica, tanto sob a ótica da demanda quanto da produção, explica as quedas continuadas da Selic, cujos níveis nominal e real registram recorde histórico de baixa. Apesar de bem-vindos, níveis assim baixos para a taxa básica de juros são um clássico remédio monetário para economias debilitadas.

Quando se somam a esses números – que refletem o passado recente – as perspectivas negativas geradas pelo surto global de coronavírus, passa a ser necessário reavaliar as expectativas para o ano. Infelizmente, como já vem ocorrendo no Brasil desde 2016, o cenário que está se formando é de crescimento menor do que esperado a priori. Relembrando: nas semanas recentes, as projeções de mercado contidas no Relatório Focus apontavam para um avanço de 2,3% no PIB em 2020. Apesar de modesta, essa marca representaria o dobro da estimativa para 2019, cujo crescimento deve ter sido da ordem de 1%. A projeção do próprio Banco Central, contida no Relatório de Inflação de dezembro passado, é de crescimento de 2,2% do PIB neste ano. Mas, até que ponto ambas as projeções ainda refletem aquela crença na “tração” que perdeu força, só o tempo dirá.

A análise mensal do Sinduscon São Paulo e da FGV/Ibre está disponível aqui.

 

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