BIM ingressa na era da Inteligência Artificial

Rafael Marko

Por Rafael Marko

BIM ingressa na era da Inteligência Artificial
Odair Senra, presidente do SindusCon-SP
Odair Senra, presidente do SindusCon-SP

O incremento da produtividade em projeto e edificação de obras, até com uso de Inteligência Artificial, foi a grande tônica do 10º Seminário Internacional BIM (Modelagem da Informação da Construção) 2019, realizado em 24 de outubro no auditório da Totvus pelo SindusCon-SP, por meio de seus Comitês de Tecnologia e Qualidade (CTQ) e de Meio Ambiente (Comasp).

Abrindo o evento, o presidente do SindusCon-SP, Odair Senra, afirmou que, com a agilização das reformas econômicas e das concessões de serviços, acrescida dos juros em queda e de financiamentos imobiliários mais atrativos, a construção deverá ser cada vez mais demandada pelos investidores e pelas famílias. “As empresas que tiverem a produtividade e a qualidade proporcionadas pelo BIM, sairão na frente”, destacou.

O vice-presidente Paulo Sanchez disse que, a exemplo do que ocorrera anteriormente nos Estados Unidos, parte das construtoras brasileiras investiu em BIM na crise e agora está preparada para enfrentar com produtividade e competitividade um novo ciclo de demanda.

Representando o coordenador do CTQ, Renato Genioli, o vice-presidente Francisco Vasconcellos enfatizou ter o BIM se transformado em “um caminho indispensável para as empresas que queiram competir” no novo ciclo econômico. Ela manifestou satisfação com o trabalho do SindusCon-SP nestes dez anos, como sendo o grande divulgador da modelagem no país, o que generalizou seu uso correto, completou.

Virtual Design and Construction

Consultor israelense Ronen Barak
Consultor israelense Ronen Barak

Em sua apresentação, o consultor israelense Ronen Barak relatou os ganhos de produtividade alcançados pela utilização do VDC (Virtual Design and Construction), com o emprego de BIM e Lean Construction.

Segundo ele, o VDC envolve todos os stackhoulders desde o início, planejando detalhadamente não só o projeto como todo o processo, do desenho em BIM à produção do objeto da construção. A sequência de planejar, fazer, checar e atuar, levando em conta as mudanças introduzidas no projeto original pelo cliente, é realizada de maneira coordenada e dinâmica.

Na fase da obra, a equipe de VDC, montada entre projetistas, executores e subcontratadas, reúne-se no próprio canteiro, sob a coordenação do engenheiro sênior da produção, com o apoio de um engenheiro júnior que maneja a modelagem. Com o suporte dos softwares Revit, Dynamo e Excel, há o cuidado de detalhar ao máximo e transmitir informações claras e precisas aos trabalhadores.

Todo o processo já leva em conta o tempo e a estratégia necessários ao atendimento das exigências individualizadas de cada cliente, como ocorreu no caso da construção de um empreendimento da construtora israelense Tidhar na localidade de Rosh Ha’ayn – uma torre de 26 andares e 170 apartamentos, praticamente todos diferentes entre si. Desde o início do projeto até a entrega da obra decorreram 4 anos, em comparação com o prazo de 5 anos e 6 meses que levou a edificação de um projeto anterior, realizado sem o VDC.

O consultor destacou que, para o sucesso do VDC, são imprescindíveis atributos como a colaboração e a transparência entre as partes, recomendando também a adoção de contratos de aliança (modelo contratual para IPD – Integrated Project Delivery).

Barak relatou que em sua empresa, a Versatile Natures, tem realizado um trabalho de elevar a produtividade na logística. Mediante a instalação de sensores, câmaras, GPS, módulos de celular e barômetros na ponta de ganchos de elevação de cargas, coleta-se nos canteiros de obras uma massa de dados que, processados, ajudam no levantamento de ociosidade e outros problemas, provendo novas soluções de incremento da produtividade.

Inteligência Artificial

Ricardo Bianca Mello, especialista técnico da Autodesk para arquitetura, engenharia e construção
Ricardo Bianca Mello, especialista técnico da Autodesk para arquitetura, engenharia e construção

Um novo desenvolvimento, o chamado projeto generativo, que alia BIM com a utilização de Inteligência Artificial (IA), foi apresentado por Ricardo Bianca Mello, especialista técnico da Autodesk para arquitetura, engenharia e construção.

Em vez da forma tradicional de se conceber e projetar, no projeto generativo os critérios e as condicionantes do que se pretende são informados ao software, por meio de algoritmos, e ele busca as melhores opções para atender esses parâmetros.

Esta forma de projetar, já aplicada pela Autodesk em seu edifício na cidade de Toronto, Canadá, também foi testada pela construtora holandesa Van Wijnen. O software Refinery, em modo beta (piloto), realizou a iteração de requisitos como custo-benefício, exposição solar, variedade de plantas individuais e extensão do quintal, resultando em milhares de opções de projetos de construção. Com Revit e Dynamo, selecionam-se as mais adequadas.

No momento, a Autodesk desenvolve uma etapa de Inteligência Artificial desse processo, o Machine Learning – ensinar a máquina a aprender a fazer, de forma a futuramente torná-la coautora, junto com o arquiteto, de projetos por meio de seu próprio aprendizado.

Avanços e lacunas

O coordenador técnico do evento, o professor Eduardo Toledo da USP, historiou os principais destaques dos dez anos do Seminário BIM. Mostrou como se trouxeram palestrantes internacionais e nacionais para cada fase de desenvolvimento da modelagem, produzindo-se também diversas publicações de orientação.

Segundo ele, não fosse a crise, o Brasil estaria ainda mais à frente em termos de adoção do BIM. Mesmo assim, houve grandes avanços em construtoras, projetistas e instaladores. Entretanto, ainda são menos de 20 os fornecedores de insumos que disponibilizam bibliotecas BIM de seus produtos no país. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) está elaborando uma norma sobre requisitos para a criação dessas bibliotecas.

Toledo também relatou que o Prêmio BIM de Excelência, instituído pelo SindusCon-SP, inspirou premiações semelhantes em estados como Pernambuco e Ceará e até em Portugal.

Nos debates, André Glogowsky, membro do Grupo de Trabalho BIM do SindusCon-SP, comentou que ainda há muito por avançar na adoção da modelagem, que pressupõe mudanças tecnológicas, comportamentais e organizacionais. Segundo ele, trata-se de processo permanente que sempre ganha novos componentes como AI, Internet das Coisas (IoT), Big Data e industrialização de insumos, representando um desafio de integração entre o mundo virtual e o real.

Glogowsky também preconizou que as universidades provavelmente evoluirão, formando arquitetos-engenheiros ou engenheiros-arquitetos para trabalhar em BIM. Segundo ele, depois de formados, os profissionais acabam estudando mais anos nas empresas do que nas faculdades.

A próxima edição do Construmail trará a cobertura das demais apresentações do seminário.

Ao final do evento, realizou-se a solenidade de entrega do 4º Prêmio de Excelência BIM do SindusCon-SP. Veja a reportagem.

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