Vendas e lançamentos imobiliários caem em 2022 no país 

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Vendas e lançamentos imobiliários caem em 2022 no país 

Mas o Valor Geral de Vendas registrou elevação, na comparação com 2021, apura a CBIC 

Depois de crescer de 2016 a 2020 e registrar estabilidade em 2021, o mercado imobiliário do país apresentou quedas de 8,6% nos lançamentos e de 3,2% nas vendas em 2022, em relação ao ano anterior. 

Os dados levantados pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) e pelo Senai Nacional, em parceria com a Brain Inteligência Estratégica, foram apresentados em coletiva de imprensa, em 27 de fevereiro. O levantamento incluiu dados de 27 capitais de Estados, 21 Regiões Metropolitanas destas capitais, e mais 45 outras cidades, num total de 207 municípios pesquisados. 

Vendas 

No quarto trimestre de 2022, as vendas de imóveis residenciais novos totalizaram 74.119 unidades, representando ligeira queda de 0,2%, na comparação com o trimestre anterior. Em relação ao mesmo período de 2021, a queda foi de 9,6%.  

Na comparação do total de vendas de 2022 em relação a 2021, as do Sudeste se elevaram em 4,2% e as do Sul em 1,6%. A região Norte apresentou a maior queda, de 31,6%, seguida do Nordeste (-8,4%) e do Centro-Oeste (-0,3%). 

O VGV (Valor Geral de Vendas) atingiu R$ 35 bilhões no quarto trimestre, quedas de 7,7% em relação ao trimestre anterior e de 5,9% na comparação com o mesmo período de 2021. 

No total de 2022, o VGV atingiu R$ 144 bilhões, aumento de 9,6% na comparação com 2021. 

Lançamentos  

O número de 80.198 unidades residenciais lançadas se elevou em 7,9% no quarto trimestre, na comparação com o terceiro, e caiu 23,1%, em relação ao mesmo período de 2021. 

No total de 2022, foram lançadas 295.447 unidades, queda de 8,6% na comparação com as 323.298 de 2021. 

Na comparação do quarto trimestre de 2022 com o terceiro, a região que registrou maior crescimento no percentual de lançamentos foi a Nordeste, com 13.108 unidades lançadas (aumento de 27,6%). Em seguida, a região Sudeste registrou aumento de 6,3%, alcançando 44.671 unidades lançadas. A única região que apresentou queda foi a Norte, com redução de 4,6%. 

Oferta Final  

A oferta de imóveis novos cresceu 1,6% no quarto trimestre de 2022, em relação ao trimestre anterior. Já no consolidado do ano, a oferta final em 2022 foi 3,4% menor que em 2021. 

No comparativo do quarto trimestre de 2022 com o mesmo trimestre de 2021, apresentaram aumento de oferta as regiões Norte (19,8%) e Sudeste (2,5%). Registraram quedas Nordeste (-16,6%), Centro-Oeste (-0,2%) e Sul (-8,3%). 

Considerando a média de vendas nos últimos 12 meses, se não houver novos lançamentos, a previsão é de que a oferta final se esgotaria em 11,2 meses, segundo a pesquisa. 

Casa Verde e Amarela/Minha Casa, Minha Vida  

Os lançamentos do programa habitacional Casa Verde e Amarela (CVA), atualmente Minha Casa, Minha Vida (MCMV), registraram, no quarto trimestre de 2022, aumento de 22,1% em comparação com o trimestre anterior.  

Para a CBIC, o movimento foi reflexo das mudanças anunciadas no programa habitacional durante o ano, contribuindo para o aumento no número de unidades lançadas no CVA/MCMV no quarto trimestre.  Contudo, José Carlos Martins, presidente da CBIC, destacou que não houve uma recuperação expressiva no mercado e o CVA/MCMV perdeu participação no comparativo das unidades lançadas e vendidas em relação ao total. 

O CVA/MCMV representou, no 4º trimestre de 2022, 38% dos lançamentos e das vendas. No 4º trimestre de 2021, as unidades lançadas do programa eram 41% do total e as vendas representavam 45% das unidades. 

Em relação a 2021, os números do programa habitacional registraram queda de 23,9% nos lançamentos e as vendas caíram 13,5%. A oferta final também teve redução de 23,9% no período. 

No quarto trimestre, foram lançadas cerca de 80.198 unidades nas cidades pesquisadas. A região Sudeste teve o maior número de lançamentos do CVA/MCMV, com 18.268. Na sequência aparece a região Nordeste, com 5.147 unidades, e a Sul, com 3.410. Centro-Oeste e Norte registraram 1.805 e 1.780, respectivamente. 

Descasamento 

José Carlos Martins atribuiu a queda nas vendas e lançamentos do CVA em 2022, principalmente, ao descasamento do custo com a capacidade de compra das famílias. 

Celso Petrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliária da CBIC, afirmou que, no início de 2021, 56% das unidades lançadas eram referentes ao programa. “O Casa Verde e Amarela/Minha Casa Minha Vida perdeu participação no mercado. Houve queda em torno de um terço dos lançamentos”, comentou. As mudanças anunciadas no programa em julho e agosto de 2022 contribuíram para o aumento nos lançamentos, permitindo um crescimento de 22,1% no quarto trimestre de 2022 em comparação ao terceiro trimestre. 

Para Fábio Araújo, CEO da Brain Inteligência Estratégica, empresa responsável pela pesquisa, mesmo que os lançamentos tenham aumentado no quarto trimestre, houve uma queda forte. “O último trimestre foi melhor, mas foi pior do que qualquer trimestre de 2021 e de 2020. Essa é a faixa que mais precisa e que responde rapidamente aos ajustes que façam caber no bolso do consumidor”, avaliou. 

Análise 

Segundo o presidente da CBIC, enquanto não houver maiores avanços para fomentar o financiamento via FGTS, o mercado deve se manter estável ou apresentar queda nos financiamentos por meio do fundo. Os saques na Caderneta de Poupança devidos à sua baixa atratividade como investimento, na comparação com a Selic de 13,75%, reduziram os recursos para o crédito imobiliário. “As perdas nos saldos da Poupança tornarão os bancos mais seletivos e as taxas de juros estão em viés de alta em função do aumento dos custos de captação”, afirmou. 

Martins considerou que o crescimento do mercado em 2023 está atrelado à agilidade do governo em fazer ajustes. “Medidas adequadas precisam ser tomadas de imediato, não podem passar de março ou abril”, disse.  

“Se demorarem até julho e agosto para definirem condições para se adequar o produto do MCMV, provavelmente teremos um ano com redução de lançamentos e vendas. Estamos dependendo mais da reação do governo do que a do próprio mercado”, considerou Petrucci. “É preciso colocar o Minha Casa, Minha Vida de volta nos bolsos das pessoas para que 2023 seja um ano próximo de 2022”, completou. “A ausência ou a demora de medidas de ajuste podem levar a uma queda de 10% em 2023”, calculou Araújo.

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