SindusCon-SP debate aumentos de preços de insumos e perspectivas da construção 

Rafael Marko

Por Rafael Marko

SindusCon-SP debate aumentos de preços de insumos e perspectivas da construção 

Temas foram analisados na Reunião de Conjuntura da entidade 

Os aumentos de preços de alguns insumos da construção e as perspectivas para o setor que se abrem com o início do ciclo de redução da taxa básica de juros foram debatidos na Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP, em 9 de agosto, coordenada por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da entidade, com a participação do presidente Yorki Estefan. 

Em sua apresentação, Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), informou que, em relação aos custos da construção, o INCC-M mostrava variação de 3,15% no acumulado de 12 meses até meados de julho. Os preços dos materiais caíram em média, enquanto os da mão de obra e serviços aumentaram. Houve exceções, como os aumentos expressivos nos preços da areia e da brita. Segundo a economista, os novos aumentos de preços como os do cimento e concreto deverão se refletir no próximo levantamento do indicador. 

Eduardo Capobianco, representante do SindusCon-SP na Fiesp, comentou que o aumento do preço da brita está sendo alimentado pela forte pressão de demanda de grandes compradores, como o município de São Paulo, para utilização em pavimentação. 

De acordo com Ana Castelo, a projeção do Ibre/FGV é de crescimento de 1,3% do PIB da construção em 2023, com o segmento formal crescendo acima desse patamar, e o segmento informal caindo. Poderá haver uma revisão com a divulgação do resultado do PIB do primeiro semestre, que o IBGE deverá divulgar no final deste mês. 

Atividade do setor 

Ao fazer um balanço do primeiro semestre, Ana Castelo destacou o crescimento do emprego na construção, de 7,5% no país e de 8,3% em São Paulo, na comparação com o mesmo período do ano passado. A criação de emprego no setor representou 16,6% do volume total gerado no país. Entretanto, o saldo de junho foi 31% inferior ao do mesmo mês do ano passado. A desaceleração ocorre nos segmentos de edificações (-28%) e serviços (-20%), enquanto na infraestrutura está havendo aceleração (+61,3%). 

No município de São Paulo, houve redução dos lançamentos. As vendas no segmento econômico caíram, enquanto as de imóveis de médio e alto padrão se elevaram. Já no âmbito nacional, no primeiro trimestre, houve redução das vendas e lançamentos. Este cenário pode mudar em função do relançamento do programa Minha Casa, Minha Vida, comentou a economista. Os preços dos imóveis residenciais novos seguem com valorização real, embora em desaceleração. 

Os volumes de crédito imobiliário e de unidades financiadas pelos recursos da Caderneta de Poupança caíram no primeiro semestre, queda esta mitigada pela elevação dos financiamentos do FGTS. Segundo Ana Castelo, a redução da Selic não deverá repercutir imediatamente no encarecimento dos financiamentos imobiliários. 

A Sondagem da Construção mostrou que os empresários da construção estão menos pessimistas, havendo melhora expressiva das expectativas em relação à demanda futura. Demanda insuficiente, falta de mão de obra qualificada e dificuldade de acesso a financiamentos continuam sendo as maiores dificuldades das empresas. No segmento dos consumidores, a confiança cresceu entre as famílias de média e alta renda, informou a economista. 

Cenário  

Robson Gonçalves, professor da FGV, observou que o início do ciclo de redução da taxa Selic é favorável. A economia já vinha se expandindo e a inflação, arrefecendo. A sinalização de que a queda dos juros prosseguirá favorece a construção, embora os preços de algumas commodities do setor sigam sujeitos a volatilidades internas e externas. A gestão econômica do Ministério da Fazenda tem dado resultados positivos e a incerteza no mercado interno está se reduzindo, até por conta da relação fisiológica entre o Executivo e o Legislativo, comentou Gonçalves. 

Se os investimentos aumentarem, refletindo a elevação das expectativas, isto incrementará o processo de expansão da economia de uma forma mais sustentada, prosseguiu o professor. Mas é preciso que o ambiente internacional não piore, que os preços internacionais não provoquem inflação aqui e que as reformas sigam avançando, acrescentou. 

Zaidan destacou a fragilidade da situação fiscal, mesmo com a aprovação do arcabouço fiscal, ante a dificuldade de conseguir equilíbrio nas contas públicas em 2024. Gonçalves lembrou que o teto de gastos nunca foi cumprido. Segundo ele, o governo apostará na retomada do crescimento econômico para o mecanismo do arcabouço fiscal funcionar. Ele admitiu que se isto não ocorrer, conforme Zaidan, voltaremos ao cenário recessivo e inflacionário. 

Eduardo Capobianco comentou que as previsões do Banco Central, de 1,9% para 2024 e de 1,3% para 2025, desautorizam a expectativa de um crescimento expressivo. Ele alertou que, no curto e médio prazo, a reforma tributária deve onerar a produção, com dois sistemas funcionando ao mesmo tempo. Gonçalves lembrou que o Banco Central costuma errar nas suas projeções de crescimento. Mas afirmou não acreditar que o país atinja um crescimento de 4% do PIB em nenhum ano próximo, podendo chegar a 3% em 2024. 

Ronaldo Cury, vice-presidente de Relações Institucionais do SindusCon-SP, alertou para o risco de descontrole de gastos do governo. Gonçalves comentou que esta é a fragilidade do arcabouço fiscal: frouxo com os gastos e, por isso, o mecanismo aposta no crescimento da arrecadação. De toda forma, mesmo com o desrespeito ao teto de gastos, não houve argentinização da economia brasileira, acrescentou. 

O que você precisa saber.
As últimas novidades sobre o mercado,
no seu e-mail todos os dias.

Pular para o conteúdo