SindusCon-SP analisa o que a construção deve esperar para 2024

Rafael Marko

Por Rafael Marko

SindusCon-SP analisa o que a construção deve esperar para 2024

Previsão de crescimento do setor está mantida mesmo com dificuldades como preço dos materiais e escassez de mão de obra

As perspectivas para o desempenho da economia e da construção neste ano foram analisadas na Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP, conduzida em 7 de fevereiro por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia, com a participação de Yorki Estefan, presidente da entidade. Está mantida a previsão de crescimento da construção, embora com solavancos como aumentos dos preços dos materiais e escassez de mão de obra qualificada.

Para Zaidan, vive-se uma época em que a macroeconomia parece razoavelmente arrumada, porém a recuperação dos empregos é muito baseada em salários baixos e pouca produtividade, especialmente nos comércios e serviços. O bom resultado da balança comercial ainda está muito baseado na indústria do petróleo e no agronegócio, com preços sempre sujeitos a flutuações externas. Entretanto, segundo o vice-presidente, a situação fiscal segue delicada, o governo pretende enfrentá-la, porém enfrenta resistências, ocasionando um baixo investimento na produção.

Já o presidente do SindusCon-SP manifestou preocupação com novas pressões de alta de preços dos materiais de construção, a concentração da produção no mercado do cimento e o crescente déficit das contas públicas.

Expectativas otimistas

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), analisou em sua apresentação que em 2024 o FGTS manterá o orçamento para a habitação. O financiamento da Poupança deve apresentar ligeira queda em termos reais. Os investimentos em infraestrutura devem ter aumento real de 7%.

Segundo a economista, as sondagens da construção da FGV realizadas em dezembro mostraram que mais da metade das empresas têm expectativas positivas em relação a este ano. No caso da construção, essas expectativas mostraram-se mais fortes no setor de infraestrutura e menos nos serviços especializados. Entre os principais fatores para tanto estão a expansão dos negócios e o aumento das receitas. Como limitações aos negócios, figuram demanda insuficiente, preços elevados dos materiais e escassez de mão de obra especializada.

Desta forma, permanece a estimativa do FGV Ibre de crescimento de 2,9% do PIB da construção. Agora em janeiro, aumentos de preços de agregados, do cimento, do concreto e do bloco de concreto estão sendo informados à Fundação e deverão aparecer mais adiante no INCC. A economista informou que, em função do maior investimento em infraestrutura, a indústria cimenteira espera crescer 2% em 2024 e anunciou investimentos para o aumento da capacidade de produção.

Balanço de 2023

Ana Castelo comentou que o PIB da construção de 2023, a ser divulgado em março próximo, possivelmente será negativo, em função do baixo consumo de materiais da construção por parte das famílias e seu impacto na indústria deste setor.

A economista observou que o estoque de emprego da construção aumentou em 2023, porém o saldo líquido apresentou queda de 16%, em relação a 2022. Nesta comparação, o emprego aumentou nas obras de infraestrutura e diminuiu no setor de edificações. No acumulado do ano, houve crescimento do emprego em edificações, especialmente no município de São Paulo, refletindo a resiliência do mercado imobiliário, em que pese o choque dos juros, com mais ênfase nas vendas do que nos lançamentos de empreendimentos.

Os preços dos imóveis residenciais, embora em desaceleração, ainda apresentaram ganho real. O volume de crédito imobiliário da Poupança caiu 42% em termos nominais e 35% em termos reais. Já os financiamentos do FGTS se elevaram tanto no número de unidades financiadas quanto no volume de recursos concedidos, em parte por conta dos ajustes feitos no Minha Casa, Minha Vida que trouxeram parte da classe média para dentro deste programa – prosseguiu Ana Castelo, que ainda mostrou a queda 1,24% no consumo do cimento em 2023.

Conjuntura econômica

Robson Gonçalves, professor da FGV, observou que, além da baixa taxa de investimento, outros fatores influenciam para a expectativa de desaceleração da taxa de crescimento do PIB em 2024 (1,6%, segundo o Boletim Focus), como corrupção e polarização política.

Entretanto, observou o economista, há sinais de que o crescimento possa ser maior, próximo a 2%, tais como: investimentos no setor automobilístico, elevações no emprego e na arrecadação, continuação da queda dos juros, desinflação global e a melhora de percepção de parte do empresariado em relação à atuação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O professor afirmou que a desaceleração da economia chinesa tem baixado os preços internacionais das commodities. Já fatores como safra menor no Brasil poderão impactar os preços dos alimentos. Entretanto, o cenário internacional ainda mantém incertezas derivadas das atuais conflagrações, que podem trazer surpresas ao longo do ano, ressalvou.

Gonçalves lembrou que o agravamento das contas públicas ocorreu no governo Bolsonaro. E comentou que o esforço de ajuste fiscal do governo Lula mira apenas no aumento da receita e não na diminuição das despesas. Isso, a seu ver, pode gerar grandes dificuldades para os próximos governos. Ana Castelo lembrou que o Congresso também contribui para o desequilíbrio das contas. E defendeu que a indústria da construção atue para que os recursos das emendas parlamentares sejam canalizados a obras inacabadas de relevância.

Nos debates que se seguiram, Zaidan comentou que uma eventual expansão do tamanho do mercado da construção poderia atrair novos fabricantes de materiais, reduzindo a concentração em alguns segmentos. Eduardo Capobianco, representante do SindusCon-SP na Fiesp, sugeriu que o setor também discuta formas de enfrentar a elevação de preços, como a importação de materiais.

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