Mercado imobiliário vive descompasso entre renda e custos, afirma Yorki Estefan

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Mercado imobiliário vive descompasso entre renda e custos, afirma Yorki Estefan

Presidente do SindusCon-SP e vice-presidente Daniela Ferrari participaram do 15º ConstruBusiness 

O mercado não está atrativo para a construção civil, o crédito segue caro, as vendas estão no mesmo patamar do ano passado e os lançamentos caíram 18% em 12 meses. É preciso criar condições para que o mercado volte a ser atrativo, corrigindo juros, investindo em industrialização e aguardando uma reforma tributária que beneficie o setor e também os trabalhadores. 

As considerações foram feitas por Yorki Estefan, presidente do SindusCon-SP, ao participar, junto com Daniela Ferrari, vice-presidente de Habitação da entidade, de um painel do 15º ConstruBusiness (Congresso Brasileiro da Construção), em 30 de outubro. O evento foi realizado pelo Conselho Superior da Indústria da Construção da Fiesp, dirigido por Eduardo Capobianco, vice-presidente da Federação e representante do SindusCon-SP naquela entidade, e pelo Departamento da Indústria da Construção e Mineração da Fiesp, presidido por Newton Cavalieri. 

De acordo com o presidente do SindusCon-SP, não houve uma recuperação da renda das famílias compatível com o aumento dos custos da construção. Segundo Estefan, os recursos das vendas imobiliárias vão para honrar os compromissos assumidos com as instituições financeiras. Ainda falta crédito adequado à construção industrializada. O saque aniversário desvia recursos do FGTS que deveriam ir para habitação e o setor está preocupado com a possibilidade de uma mudança injustificada na correção dos depósitos do Fundo. Assim, a indústria imobiliária vive à espera de um novo ciclo. 

Moderador do painel, Luiz França, presidente da Abrainc (Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias), elogiou a postura das construtoras de se manterem financeiramente saudáveis, no aguardo de ajuste no mercado. 

Daniela Ferrari relatou que as construtoras têm buscado a industrialização dos processos produtivos, porém enfrentam um descompasso: há sistemas industrializados, mas falta avançar na parte regulatória, para proporcionar leveza, flexibilidade e segurança jurídica. Informou que o setor trabalha com os governos pela melhoria do ambiente de negócios. Citou diversas ações em andamento, como os decretos do governo paulista que criaram o Facilita São Paulo e estipularam tratamentos diferenciados para licenciamentos envolvendo padrões de baixo, médio e alto risco. 

Minha Casa 

Hailton Madureira de Almeida, secretário Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, informou esperar que, nos próximos 15 dias, o governo divulgue a lista dos projetos selecionados para contratação na Faixa 1 do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). 

Segundo o secretário, o retorno do programa sinaliza a disposição do ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho, de colocar a habitação como tema nacional. Ele disse esperar que em 2023 as contratações dentro do programa cheguem a 450 mil unidades, e em 2024, a 520 mil, crescendo sucessivamente de forma a superar a meta de 2 milhões estabelecida pelo governo federal.  

Almeida manifestou a expectativa de trazer fundos verdes para o financiamento da habitação. Considerou que o Ministério das Cidades deveria cuidar da política de Poupança, e não o Banco Central e o Ministério da Fazenda. Afirmou que o Ministério está empenhado em viabilizar parcerias com Municípios para que os subsídios municipais e até de emendas parlamentares cubram o valor da entrada e possibilitem que mais famílias tenham acesso ao financiamento dentro do programa. Um seminário para dirigentes municipais acontecerá em novembro para explicar como eles podem ser tornar parceiros do governo federal, padronizando procedimentos e ganhando velocidade na implementação do programa. E disse que o governo também deverá lançar um programa de locação social junto com os Estados. 

Capobianco manifestou a expectativa de que o fluxo de recursos para o financiamento da habitação não sofra variações, uma vez que oscilações bruscas como as ocorridas em anos anteriores são prejudiciais ao setor. 

Estefan agradeceu ao secretário pelo ato do governo federal que reconheceu a validade da CECarbon – Calculadora de Consumo Energético e Emissões de Carbono para edificações, desenvolvida pelo SindusCon-SP. 

Crédito imobiliário 

Alexandre Cordeiro, superintendente Nacional da Caixa Econômica Federal, afirmou esperar que o volume de financiamentos imobiliários, somando os recursos do Orçamento Geral da União e do FGTS, chegue neste ano próximo dos R$ 100 bilhões. Manifestou a expectativa de que os juros caiam para que a Caixa possa operar ainda mais no segmento habitacional. Estefan destacou que a instituição é uma grande parceira da indústria imobiliária. 

BIM 

Cordeiro afirmou que a Caixa está pronta para a tramitação de projetos de habitação popular em BIM (Modelagem da Informação da Construção). Estefan considerou o BIM uma ferramenta maravilhosa e lembrou que uma Missão Técnica do SindusCon-SP a Singapura constatou que o BIM era exigido pelo governo daquele país para todos os projetos imobiliários de porte e que a aprovação dos mesmos levava apenas sete dias. 

Daniela afirmou que o BIM ajuda muito na escolha de terrenos, auxilia os projetistas e é crescente o número de arquitetos que se adaptam à modularização. Ela disse esperar que o BIM se dissemine entre a indústria da materiais de construção, evitandos retrabalhos e desperdícios. 

Almeida também considerou positiva a adoção do BIM e destacou que o Ministério busca aceitar o máximo possível de formas de construir, desde que respeitadas as normas de desempenho. 

 Rodrigo Koerich, coordenador técnico do Projeto Construa Brasil, comentou ser possível usar o BIM em larga escala, inclusive para desburocratizar aprovações e realizar gestão do crédito. 

Ele relato os trabalhos do projeto, que disponibilizou um guia para as prefeituras atualizarem seus códigos de obras e outro de boas práticas na agilização da aprovação de projetos. Daniela comentou que um grupo de trabalho do Comitê de Habitação Popular do SindusCon-SP se ocupa da modernização dos códigos de obras no Estado de São Paulo, lembrando que os municípios que não o têm se baseiam no Código Sanitário dos anos 70. E informou que o Comitê também elaborou uma cartilha destinada a estimular a habitação popular nos municípios.  

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