Economista do Itaú prevê 2024 melhor para os investimentos

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Economista do Itaú prevê 2024 melhor para os investimentos

Webinar discutiu perspectivas para a economia e a construção

O ano de 2024 promete mais investimentos e menos incertezas, com juros em queda e inflação sob controle. Neste cenário, a indústria da construção deverá se beneficiar por taxas menores no crédito imobiliário e aumento das contratações no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV).

Estes foram alguns dos prognósticos feitos por Fernando Gonçalves, superintendente de Pesquisa Macroeconômica do Banco Itaú, em webinar exclusivo para os associados do SindusCon-SP, em 21 de fevereiro. O evento foi conduzido por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia.

Na abertura do webinar, Yorki Estefan, presidente do SindusCon-SP, registrou a incerteza no setor, provocada pelos “sinais contraditórios na condução da política econômica: de um lado, o ministro da Fazenda adota algumas medidas relevantes, embora nem sempre na direção correta, como no caso da reoneração da folha de pagamentos; de outro lado, temos um Congresso e um presidente da República com viés gastador”.

Em sua apresentação,  Gonçalves mostrou as projeções do Itaú para a economia brasileira em 2024 e 2025:

Fernando Gonçalves, superintendente de Pesquisa Macroeconômica do Banco Itaú

IPCA: 3,6% e 3,5%

INCC: 3,6%

IGPM: 3% e 3%

Selic: 9% e 9%

Câmbio: R$ 4,90 e R$ 5,10

PIB: 1,8% e 1,8%

Resultado primário das contas públicas: -0,8% e -1%

Dívida bruta (% do PIB): 77,2% e 80,4%

O economista observou que o banco poderá elevar a projeção do PIB, por conta de um esperado aumento do volume de concessão de crédito. Embora o crescimento do PIB deva ser menor que o do ano passado, terá melhor qualidade. O investimento deverá crescer por conta da queda dos juros e da diminuição das incertezas que havia no início do ano passado. O consumo deve crescer entre 2,5% e 3%, em função da desaceleração do crescimento da renda. E a indústria tende a acelerar seu crescimento.

Segundo Gonçalves, os juros no crédito imobiliário já começaram a cair e isso tende a continuar, aumentando a demanda por esses financiamentos. Na composição do INCC, ele previu um alívio na inflação de materiais e de mão de obra. Disse esperar que a pauta econômica neste ano não deverá gerar maiores problemas sobre as perspectivas dos agentes: na reforma tributária, a construção tende para uma tributação semelhante à que ocorre hoje, e o desempenho do aumento do déficit fiscal já estaria precificado pelo mercado.

Incerteza sobre custos 

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV/Ibre, observou que a atividade aquecida do mercado imobiliário, o MCMV e o aumento dos investimentos em infraestrutura ocasionaram uma falta de mão de obra qualificada, devendo seguir pressionando seus custos e elevando o INCC. Concordando, Gonçalves admitiu que isso traz riscos para a projeção do banco. Disse esperar que as pressões sobre os custos de mão de obra diminuam mais adiante, mas neste ano ainda deverão se elevar em 4,2%.

Ana Castelo também ponderou que a oferta de crédito imobiliário ainda deverá se manter restrita, em face da redução dos recursos da Poupança SBPE e da taxa de juros. Gonçalves disse acreditar que o crédito tem registrado alguma melhora, mas concordou em que os juros ainda estão em um patamar muito alto.

Eduardo Zaidan manifestou a preocupação com uma economia alquebrada, caracterizada pela dificuldade muito grande de aumento da produção industrial; em consequência, se houver aumento da demanda, há desequilíbrio em relação à oferta e isso gera inflação.

Gonçalves afirmou não discordar. Comentou que os gastos do Estado crescem e os impostos aumentam, representando uma bola de ferro no pé do empresário. Disse que a economia tem uma dinâmica aquém do que deveria ter, muito poderia ser feito e não é. Mas manteve sua previsão de que 2024 será melhor que 2023, com mais investimentos. Relatou que o banco tem recebido mais demandas de recursos para investimentos, ao contrário de 2023.

Robson Gonçalves, professor da FGV, questionou se a previsão de resultado primário das contas públicas de -0,8% não seria “otimista”. O economista do Itaú admitiu que se o banco revisar para cima a projeção do PIB, também poderá revisar a do déficit, mas por enquanto considerou a previsão de -0,8% equilibrada, como mediana dos prognósticos dos analistas da pesquisa Focus. Disse que a questão não está resolvida, mas seu impacto sobre os preços dos ativos será menor que no ano passado.

André Rebelo, economista da Fiesp, apontou riscos para o equilíbrio das contas públicas com mais gastos por parte do governo, e por outro lado mais investimentos como os do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Gonçalves comentou que a elevação da demanda por crédito surpreende, previu que o governo deverá investir com o pouco recurso de que dispõe – com vieses para a classe mais baixa, com o MCMV –, mas afirmou acreditar que o PAC não terá tanto impacto, por se tratar mais de um reempacotamento de projetos.

O economista considerou ainda que a elevação da dívida para cerca de 80% do PIB não é insustentável, e se isso se tornar um problema para a atração de capital, não deverá acontecer neste governo. Em um mundo conturbado, o Brasil ganha no “campeonato do menos feio”, entre os emergentes, além de Índia e México, disse, pois é difícil hoje investir na Rússia e na China. “Se houver alguma punição, ela deverá vir no próximo governo, que precisará mexer no gasto.”

Comentou que as agências de rating melhoraram a nota de crédito do Brasil, por conta do PIB maior e das reformas como a tributária, mas a classificação não deve chegar a grau de investimento, porque a dívida interna continua subindo, embora menos do que se imaginava, e não se discute mais se o Brasil conseguirá pagá-la.

Já para 2025, previu que o câmbio desvalorizaria um pouco mais por conta da desaceleração de economia chinesa.

Cenário mundial

O economista observou que mais de 50% da economia mundial está em países que passarão por eleições neste ano, notadamente nos Estados Unidos (25%), com Trump na dianteira de Biden nas pesquisas. Se Trump vencer, a perspectiva na economia norte-americana é de mais tarifas protecionistas e impostos mais baixos. Além disso, o mundo vive o momento geopoliticamente mais conturbado dos últimos 30 anos. É razoável imaginar que acontecerão novos eventos que ocasionarão novas turbulências nos mercados, disse.

Outro ponto de atenção para Gonçalves é o encarecimento dos transportes marítimos, por conta do conflito no Mar Vermelho com os ataques dos houtis do Yêmen, encarecendo também os preços de petróleo e outros bens. Entretanto, este cenário não deve evoluir como aconteceu na pandemia, quando houve desabastecimento e, portanto, não deve ocasionar inflação mundial; esta deverá continuar caindo, acrescentou.

A economia chinesa – observou – tem crescido menos e exportado desinflação, fenômeno que também acontece no mundo, em países desenvolvidos e emergentes. Mas os EUA seguem com crescimento econômico e emprego em alta, pressionando a inflação e mantendo lá os juros elevados, o que deixa o real desvalorizado no Brasil. Paralelamente, aumentam nossas exportações, trazendo mais dólares. Em consequência, o câmbio deverá chegar ao final do ano por volta dos R$ 4,90 onde está hoje, previu.

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