Confiança da construção não voltou ao nível de otimismo pré-pandemia

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Confiança da construção não voltou ao nível de otimismo pré-pandemia

Sondagem da CNI mostra piora na percepção das condições atuais do setor
Em janeiro de 2022, o Índice de Confiança do Empresário (Icei) da Indústria de Construção manteve-se praticamente estável, avançando 0,3 ponto, para 55,8 pontos. Por estar acima da linha divisória de 50 pontos, que separa a confiança da falta de confiança, o índice indica que os empresários da Construção ainda estariam moderadamente confiantes.
Isto foi o que apurou a Sondagem da Indústria da Construção da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Foram coletados dados de 434 empresas, sendo 165 pequenas, 183 médias e 86 grandes, entre 3 e 14 de janeiro.
O nível de confiança, entretanto, está abaixo daquele registrado em janeiro do ano passado, quando o Icei da Construção estava em 56,9 pontos. Está abaixo também do observado em janeiro dos anos de 2020 e 2019, quando o Icei registrava, respectivamente, 64 pontos e 63,7 pontos. Isso indica que a construção ainda não recuperou o nível de otimismo observado antes da pandemia.
A percepção dos empresários do setor em relação às condições atuais permaneceu negativa em dezembro. O Índice de Condições Atuais ficou em 47,5 pontos, abaixo da linha divisória de 50 pontos, indicando percepção de piora das condições atuais na comparação com os últimos seis meses.
Expectativas de melhora
O Índice de Expectativas registrou avanço de 0,5 ponto, para 59,9 pontos. Acima da linha de 50 pontos e da média histórica, o índice revela expectativas positivas e disseminadas para os próximos seis meses. Contudo, assim como o índice geral de confiança, as expectativas estão menos otimistas que em janeiro de 2021 e menos otimistas que nos meses de janeiro dos anos pré-pandemia.
Os empresários da construção seguem com expectativas positivas para todas as variáveis analisadas. O empresário espera alta do nível de atividade, do número de novos empreendimentos e serviços, da compra de insumos e do número de empregados nos próximos seis meses.
Em janeiro, os índices de expectativas relativos à compra de insumos e matérias-primas, ao nível de atividade e ao número de novos empreendimentos avançaram, respectivamente, 1,7 ponto, 1,3 ponto e 0,8 ponto, indicando expectativas mais fortes e mais disseminadas de avanço nos próximos seis meses.
Já o índice de expectativa do número de empregados se manteve praticamente estável, com uma variação de 0,1 ponto em relação a dezembro, subindo para 55,5 pontos.
Intenção de investir
Em janeiro, o índice de intenção de investimento dos empresários da construção avançou 3,2 pontos, para 44,8 pontos. O indicador tem apresentado um comportamento volátil mês a mês desde o início da pandemia de Covid-19.
A intenção de investir de janeiro de 2022 é elevada na comparação com a média histórica e é também semelhante àquela registrada ao fim de 2014, quando a indústria da construção finalizava um ciclo de elevado crescimento.
Atividade cai pouco
Em dezembro, a atividade na indústria da construção recuou pelo segundo mês consecutivo. Esse é um movimento normal para o último mês de cada ano, de acordo com a CNI. No entanto, a construção teve o menor recuo para o mês desde 2010.
O índice do nível de atividade ficou em 48,2 pontos, abaixo da linha divisória dos 50 pontos, que separa aumento de queda do nível de atividade. O índice, entretanto, é o melhor para o mês de dezembro desde 2010 (que havia ficado em 50,5 pontos).
O emprego, de forma semelhante, também recuou. O índice do número de empregados ficou em 48,6 pontos, abaixo da linha divisória que separa aumento da queda do emprego, indicando recuo do número de empregados em dezembro frente a novembro. No entanto, é o menor recuo para dezembro desde o início da série histórica do índice, em 2011.
Preços dos insumos
No quarto trimestre de 2021 o índice do preço médio dos insumos do setor revela o aumento menos intenso nos preços desde o segundo trimestre de 2020. É o segundo trimestre consecutivo em que há uma desaceleração do ritmo de aumento de preços dos insumos e matérias primas da construção.
O índice varia de 0 a 100 e valores acima de 50 pontos indicam aumento do preço dos insumos. No terceiro e no quarto trimestre de 2021 houve uma queda de 7,5 pontos no índice, que recuou para 70 pontos no quarto trimestre de 2021. O valor é elevado se comparado ao período pré-pandemia, que estava em 55,6 pontos no primeiro trimestre de 2020.
Os índices de situação financeira e facilidade de acesso ao crédito no trimestre recuaram, respectivamente, 1 ponto e 2,5 pontos, indicando maior insatisfação das empresas com sua situação financeira e maior dificuldade de acesso ao crédito, em linha com o aperto da política monetária para o controle da inflação.
Já o índice de satisfação com a margem de lucro se manteve praticamente estável, variando 0,1 ponto para 42,5 pontos. Todos esses três índices mantêm, no entanto, uma tendência de longo prazo de recuperação que, embora lenta, vem sendo observada desde 2016.
Principais preocupações
A falta ou alto custo de insumos, que se manteve como o principal problema da indústria de construção durante a segunda metade de 2020 e todo o ano de 2021 segue como a principal preocupação do setor, atingindo 47,3% das empresas no quarto trimestre de 2021.
O percentual, no entanto, caiu 9,8 pontos percentuais na comparação com o primeiro trimestre de 2021 e 6,9 pontos percentuais apenas no quarto trimestre do ano, indicando o menor patamar em relação ao observado nos trimestres anteriores. Apesar disso, o resultado sinaliza que o empresário permanece muito preocupado com o mercado de insumos.
O segundo e o terceiro maiores problemas enfrentados pela construção são a elevada carga tributária e a burocracia excessiva, que atingem, respectivamente, 28% e 22,2% das empresas do quarto trimestre de 2021.
Com o aperto da política monetária, cresce o problema das taxas de juros elevadas, que atinge 21,3% das empresas no quarto trimestre de 2021, um crescimento de 11,6 pontos percentuais na comparação com o segundo trimestre do ano. Ele cresceu do quinto para o quarto problema mais importante da construção no quarto trimestre.
Também cresce no setor, sobretudo na avaliação do setor de obras de infraestrutura, o problema da falta de financiamento de longo prazo, que atinge 10,1% das empresas.
Utilização da Capacidade
Em dezembro, a Utilização da Capacidade Operacional (UCO) se manteve em 66% pelo terceiro mês consecutivo. Trata-se de um patamar elevado, superior ao observado nos últimos sete anos e equivalente ao nível de utilização da capacidade observado em novembro de 2014, quando a indústria da construção se encontrava no fim de um ciclo de forte crescimento.

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