Webinar aponta tarefas para o país atravessar a crise

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Webinar aponta tarefas para o país atravessar a crise
Vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan

O vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, considerou prematuro concluir que as medidas econômicas adotadas pelo governo para enfrentar a Covid-19 serão suficientes para manter a economia girando. Ele disse ser fundamental priorizar o cuidado com a saúde e a vida das pessoas, sem o que não haverá recuperação econômica. “Sem cuidar da pandemia, não sairemos dela”, destacou. Para ele, diante de uma crise tão inédita, as tarefas que se impõem são cuidar da saúde, da assistência às famílias necessitadas, manter resiliência, preservar a saúde financeira das empresas e seu tecido produtivo, e adotar medidas sensatas que resguardem o bem estar coletivo.

As colocações foram feitas em webinar da Daikin, assistido por cerca de 400 pessoas, em 7 de abril. O vice-presidente de Economia observou que a construção civil tem trabalhado em 90% do país, como resultado de decisões de investimentos tomadas no passado. Para ele, a questão é saber quando voltarão os investimentos e as encomendas para a construção, levando em conta que as decisões de investimentos serão tanto mais demoradas quanto perdurar a crise.

De acordo com Zaidan, a tarefa é deixar os projetos prontos, para quando aquele momento chegar, ao mesmo tempo em que se devem monitorar nos próximos três meses os fundings da construção, especialmente o FGTS, a Poupança que caiu muito no início do ano e em março virou novamente competitiva, e a renda das famílias. Segundo ele, preocupam a construção comercial e construção industrial, dependentes de fundos de investimento estrangeiros, que se retraíram.

Para a economia, segundo Zaidan, a partir de julho há chance de se pensar na retomada da atividade em alguns setores, com gradual recuperação econômica no último trimestre. A economia será muito atingida, porque 65% são serviços, afetando a economia das pequenas empresas e dos informais.

Agora, prosseguiu, “o importante é cuidar ao máximo para não haver colapso do sistema de saúde, caso contrário as pessoas vão começar a morrer de doenças do século passado”. Também considerou a necessidade de se buscar coordenação entre as ações de saúde e as de retomada das atividades econômicas.

Ano duríssimo

O economista Guilherme Moreira, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e da Abrava (Associação Brasileira de Associação Brasileira de Refrigeração Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento), destacou que os investimentos imobiliários no médio e no longo prazo deverão serão mantidos, especialmente com os recursos arrecadados em bolsa e dos fundos imobiliários.

Segundo ele, o ano será duríssimo, especialmente para as pequenas empresas e o comércio varejista. “Precisamos repensar por que o crédito não chega nas empresas e, quando chega, por que é tão caro. Se conseguirmos voltar a operar, há chance de recuperação em um ano. Preocupante é a questão fiscal que vem pela frente, especialmente nos Estados e Municípios, sendo necessária uma coordenação com a União”, comentou.

Também mencionou que apenas 5% dos 40% da força de trabalho não empregada são formalizados, o que diminui o acesso à rede de financiamento, além de um grande aperto de crédito, o que afetará todos os segmentos, inclusive o imobiliário. E opinou que a volta das atividades irá acontecer ainda em meio ao ciclo de contaminação da doença, porque a maioria da força de trabalho não pode trabalhar em home office. Portanto, em sua visão, ganharão importância os cuidados das empresas com a saúde dos colaboradores.

De acordo com Moreira, as cerca de 8 mil pequenas instaladoras de ar condicionado no país estariam na UTI. Dificilmente teriam recursos até para pagar rescisões de contratos de trabalho. “É o momento de se pensar o que as empresas maiores da cadeia do segmento podem fazer pelas menores. Ao mesmo tempo, a Abrava conseguiu uma flexibilização para permitir o trabalho de manutenção de refrigeração e ar condicionado”, disse.

Volta dos investimentos

O diretor Comercial da Daikin, Raimundo Ribeiro, chamou a atenção para o fato de que 22% das residências no Brasil têm ar condicionado. O desafio será fazer o consumidor voltar a investir, possibilitando a retomada da atividade.

Para ele, a construção pesada terá uma inércia menor, enquanto a retomada nos negócios futuros residenciais tardará mais. Empresas precisarão planejar o curto prazo, ter disciplina financeira, envolver mais pessoas na tomada de decisões e intensificar a comunicação verbal com o time e com os clientes.

Efetividade das medidas

Abrindo o webinar, o gerente de Planejamento Estratégico e Finanças da Daikin, Lucas Marcolino, traçou nove cenários para a evolução da crise e a posterior retomada econômica. Segundo afirmou, esta retomada poderá ocorrer quando a pandemia estiver sob um razoável controle, dependendo da velocidade e da efetividade das medidas econômicas e de saúde adotadas.

Marcolino preconizou a necessidade de injeção massiva de recursos na economia, para que as pessoas não saiam do isolamento e voltem a circular, pois a seu ver a aceleração econômica depende do controle da epidemia, e não o contrário.

Acrescentou que o isolamento vertical não possui base, podendo estender o período de crise. “Consequentemente, os mercados mais afetados, como os de aviação, turismo e automotivo, somente se recuperarão ao longo de 2021. E os diferentes setores econômicos se recuperarão em momentos distintos”, completou.

Para o palestrante, o desafio central envolve ações de governo, empresas e sociedade. “Se não houver grandes novidades, teremos seis meses para gerenciar o processo de saúde e doze meses para a retomada econômica”, afirmou.

Marcolino chamou a atenção para a necessidade de providências das lideranças das empresas, a fim de se adaptarem à nova situação, gerenciando as equipes por entrega de resultados e não por tempo, realizando investimentos em marketing para se aproximar dos clientes, e mantendo o caixa saudável sem fazer cortes radicais para resolver o curto prazo, com velocidade e disciplina.

Para tanto, prosseguiu, a empresa precisa identificar riscos chaves, pensar em cenários alternativos, analisar os limites de estresse financeiro, definir o que fazer e quando fazer, criar controles periódicos financeiros, acompanhar a evolução dos cenários e se ajustar rapidamente.

Ao mesmo tempo, concluiu, é preciso proteger a saúde dos funcionários quando se termine o isolamento social, reforçar o relacionamento com os clientes, restabelecer conexões e a cadeia de suprimentos, revisar a estrutura e o modelo do negócio, e avaliar o cenário nacional e mundial das relações econômicas e trabalhistas, buscando se adaptar ao novo cenário.

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