SindusCon-SP preconiza fortalecimento do crédito direcionado
Os indicadores do desempenho da indústria da construção apresentaram ligeiras melhoras no primeiro semestre, porém ainda não se vislumbra um crescimento sustentado para o setor. Ademais, a liberação dos recursos do FGTS decretada pelo governo, junto com o anúncio do fim dos subsídios do Orçamento para o financiamento da faixa 1 do Programa Minha Casa, Minha Vida, traz uma grande preocupação para o segmento de habitação popular.
Esta foi a tônica da Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP em 6 de agosto, conduzida pelo vice-presidente de Economia da entidade, Eduardo Zaidan. Ele comentou que tanto os créditos direcionados para a indústria imobiliária das Cadernetas de Poupança e do FGTS funcionam bastante bem em momentos de baixa inflação como o atual, sendo portanto relevante fortalecê-los.
Em sua apresentação, a coordenadora de projetos da construção da FGV/Ibre, Ana Maria Castelo, mostrou os indicadores que denotam aumento da confiança dos empresários da construção. Ela notou, contudo, que a avaliação da situação atual e as expectativas de melhora ainda não entraram no campo do otimismo.
A projeção de aumento do nível emprego no setor para este ano indica elevação de 1,5%, fato positivo que, entretanto, não recupera a perda do ano passado, segundo ela. No primeiro semestre, o maior crescimento no emprego registrou-se nas áreas antecedentes à obra, como engenharia, arquitetura e preparação de terrenos, o que denota aumento futuro do emprego na construção propriamente dita.
A economista disse serem muitos preocupantes a utilização do FGTS para fomentar o consumo, e o anúncio de que apenas este fundo seguiria subsidiando a habitação de baixa renda, deixando o Orçamento da União de fazê-lo. “O investimento sustenta o crescimento, fragilizá-lo não é a melhor política pública. Minha Casa, Minha Vida é imprescindível e o FGTS fundamental”, afirmou.
Ela também se disse apreensiva com o fato de que os bancos agora podem direcionar os recursos da Poupança exclusivamente para o financiamento de imóveis de médio e alto padrão, quando o perfil da maioria da demanda por imóveis residenciais no país concentra-se na faixa de renda de até cinco salários mínimos.
Ana Maria também observou que a opção pelo financiamento imobiliário corrigido pelo IPCA, que a Caixa pretende anunciar nas próximas semanas, é positiva em épocas de inflação reduzida como a atual, mas problemática em fases de inflação em alta. Zaidan comentou que também há a hipótese de o adquirente do imóvel não ter alternativa a não ser optar pelo crédito atualizado pelo IPCA, se o banco não tiver dispuser mais de funding para lhe oferecer a opção corrigida pela TR mais juros.
Fontes alternativas
Em sua exposição, o professor Robson Gonçalves, da FGV, afirmou que um país com elevada desigualdade requer a manutenção de crédito direcionado para a habitação de baixa renda.
Ele disse ver, na liberação de recursos do FGTS para o consumo, um sutil ataque ao crédito direcionado. Reiterou a necessidade de se buscarem fontes alternativas para o financiamento da habitação popular, diante da política econômica liberal do governo de querer zerar o déficit fiscal em quatro anos, cortando investimentos do Orçamento.
Para Gonçalves, a guerra comercial e tarifária desencadeada entre os Estados Unidos e a China poderá desestimular investimentos externos no Brasil. Isto porque a persistência deste conflito tende a elevar a inflação e, consequentemente, os juros, impactando investimentos em infraestrutura. Entretanto, reconheceu que poderá haver interesse por parte do capital externo, em função de ativos baratos no Brasil.
Zaidan ponderou que, mesmo neste cenário, investidores estrangeiros poderão se interessar em aportar recursos para o financiamento da infraestrutura, se o marco regulatório for aperfeiçoado. Em sua visão, este movimento poderá inclusive apressar a regulação.
