SindusCon-SP debate conjuntura e perspectivas da construção 

Rafael Marko

Por Rafael Marko

SindusCon-SP debate conjuntura e perspectivas da construção 

Preocupação com o impacto dos aumentos de preços dos materiais de construção nos contratos atuais do setor; incerteza em relação ao comportamento destes preços na orçamentação dos contratos futuros; e falta de clareza sobre os rumos da política econômica. Estes foram os principais temas debatidos na Reunião de Conjuntura Econômica do SindusCon-SP, em 1º de dezembro, coordenada pelo vice-presidente de Economia, Eduardo Zaidan, com com a participação do presidente Odair Senra.

Zaidan apontou o risco de dominância fiscal (quando o governo não consegue captar recursos suficientes no mercado e passa a emitir moeda para cobrir seus gastos), se a equipe econômica não encontrar uma saída para a crise com responsabilidade fiscal. “A esperança é que o Congresso tome a dianteira responsavelmente numa discussão sobre teto de gastos e arbitre como será a distribuição das perdas, encontrando uma solução para o fim abrupto do auxílio emergencial e votando o Orçamento. Precisamos de uma proposta crível de que sairemos da crise, e sinalizarmos que o país tem disciplina para resolver os problemas”, afirmou.

Em relação aos materiais de construção, o vice-presidente assinalou que o aumento médio de 13,64% em 12 meses já está contaminando os contratos, gerando angústia em relação a seu andamento e aos novos contratos que as empresas pretendam fechar.

Preços dos materiais 

Em sua exposição, o professor Robson Gonçalves, da FGV, alertou que, além dos aumentos de preços dos materiais, em 2021 a construção também precisará lidar com reivindicações salariais por conta do aumento da inflação. Em sua análise, os atacadistas devem diminuir o ritmo de aumentos de preços quando sentirem que há uma demanda firme.

Segundo o economista, se houver a indicação de eficiência na distribuição da vacinação com controle da Covid-19, mais capitais externos virão e o câmbio baixará, reduzindo os custos dos materiais comercializáveis (tradables), segundo ele. Entretanto, a inflação poderá aumentar quando a demanda por serviços se normalizar, comentou.

Para Gonçalves, no pior cenário, conjugando dominância fiscal com populismo econômico, haverá elevação da inflação. Segundo ele, o governo teria alívio se conseguisse a aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional de reforma administrativa, que permita a redução da jornada e dos salários do funcionalismo público, nem que seja em caráter emergencial. O passo seguinte seriam reformas visando crescimento de longo prazo, preservando o teto de gastos e abrindo espaço para o investimento público em infraestrutura, motivando as empresas a também investirem.

Crescimento em 2021 

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção da FGV/Ibre, apresentou estimativa de que o PIB da construção caia 2,5% em 2020, menos do que a projetada queda de 4,5% do PIB nacional. Para 2021, ela estimou um crescimento de 3,8% do PIB da construção. Ele seria alavancado pelas empresas, que cresceriam 4,1%, mais do que a elevação projetada de 3,5% para o segmento de autoconstrução e reformas.

Em sua apresentação, a economista comentou que a recuperação do PIB da construção no terceiro trimestre ainda não supera a queda registrada no acumulado do ano. Destacou que, para 2021, há incertezas em relação à condução da política econômica, ao comportamento da inflação, e à confiança do investidor. E lembrou que a sustentação do crescimento do mercado imobiliário dependerá do comportamento do emprego, da renda e dos juros.

Segundo a Sondagem Nacional da Construção da FGV, a percepção empresarial é que em novembro a atividade da construção voltou ao patamar existente em fevereiro, antes da pandemia de Covid-19. Um sinal desta retomada é a criação de 138 mil empregos com carteira assinada até outubro, pelo setor. Entretanto, Ana Maria alertou para o risco de dados negativos estarem sendo subestimados, com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério da Economia não estar incluindo as informações das demissões das empresas que quebraram na pandemia. A Pesquisa Nacional de Amostragem dos Domicílios do IBGE aponta queda entre empregados com carteira, sem carteira e por conta própria na construção.

A economista mostrou que, no acumulado do ano até outubro, as vendas do cimento apontam aumento de 10,1%, comparado ao mesmo período do ano passado, principalmente como resultado de reformas. As vendas do comércio deste insumo atingiram o recorde. Já a fabricação dos produtos cerâmicos caiu 17,3%. Na média, os fabricantes de materiais de construção registraram queda de 4,7%, enquanto as vendas do comércio se elevaram em 7,8%.

Captada pela Sondagem, a percepção dos empresários do setor mostra superação da pior fase da pandemia, mas se situa na faixa de moderadamente pessimista. Apesar de tudo, a percepção é melhor que no ano passado, sobretudo no segmento imobiliário, alavancado pela redução da taxa de juros no âmbito do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, e favorecido pelo aumento das vendas, enquanto os lançamentos apontam queda no ano. O movimento tem mais força na capital paulista, onde os imóveis acumulam elevação de 16,35% nos preços, no acumulado de 12 meses.

As maiores dificuldades apontadas na Sondagem Nacional da Construção continuam sendo a demanda insuficiente e a competição no próprio setor. O custo de matéria prima e a escassez de materiais e/ou equipamentos tiveram assinalações recordes: 51,5% das empresas relataram dificuldades para obter insumos, principalmente aço, cimento e produtos de metal. O INCC-M acumula 7,86% até novembro, puxado por materiais e equipamentos. O cimento aumentou 24,9% e o aço, 22,8%. Os estoques da indústria estão baixos. Há expectativa de recuperação industrial por conta de reposição de estoques.

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