Seminário mostra possibilidades da construção metálica e recuperação de estruturas 

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Seminário mostra possibilidades da construção metálica e recuperação de estruturas 
Cyrino, Batlouni, Lucio, Andreucci e Rosane

Novas possibilidades em construção metálica e um case de recuperação de uma vasta estrutura de concreto armado foram os destaques do segundo dia do 21º Seminário Tecnologia de Estruturas de Edificações do SindusCon-SP, assistido por 307 pessoas, em 10 de novembro.

Jorge Batlouni, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, e Luiz Lucio, membro do Comitê de Tecnologia e Qualidade (CTQ) da entidade, abriram o evento com homenagens ao professor Augusto Vasconcelos, que completou 98 anos há duas semanas e ainda está em  atividade, e ao engenheiro Virgilio Augusto Ramos, presidente da CEC Companhia de Engenharia Civil, falecido neste ano.

Segundo Batlouni, o seminário demonstrou que cada material e cada sistema construtivo têm suas qualidades e seu desempenho, cabendo à engenharia buscar as melhores soluções, inclusive viabilizando soluções mistas.

Lucio observou que a indústria da construção ainda não está familiarizada com as muitas possiblidades de industrialização. Em sua opinião, uma dificuldade está em arquitetos que, embora muito criativos, ainda não teriam a visão da indústria. Outra dificuldade é saber fazer as contas corretamente, para a identificação das situações em que a industrialização pode ser vantajosa.

Modularização atrativa 

Edifício residencial da Urbic com estrutura metálica

Em sua palestra, a engenheira Rosane Bevilaqua, coordenadora da área de Construção Metálica da Gerdau, mostrou as possibilidades desta modalidade em edifícios residenciais. Afirmou que a montagem é feita com alto nível de precisão e rapidamente, utilizando produtos metálicos de alta resistência, com conexões simples à fachada e aos sistemas prediais. As peças precisam ser leves e esbeltas para facilitar o transporte e a montagem no canteiro.

Como exemplo, ela apresentou obras residenciais de pequeno e médio portes da Construtora Urbic. Em até 45 dias, lajes e steel-deck são parafusados à estrutura com controle de torque. Um centro de serviços faz o fornecimento, a um custo reduzido em relação a um fabricante convencional. A técnica requer mudança de mindset, eliminando grande quantidade de soldas na fabricação e na montagem. Os serviços são descentralizados: uma equipe fabrica e outra faz a montagem, reduzindo custos.

Segundo Rosane, a construção industrializada modular residencial permite redução nos prazos da obra em 50% e diminuição em 20% dos custos, mediante ganhos de escala, com potencial para resolver o gap de produtividade do setor. Com menor ciclo do empreendimento, há antecipação do retorno do investimento. O maior controle de qualidade dentro da fábrica diminui patologias, reduzindo custos. O uso de materiais leves e de alto desempenho faz cair o custo das fundações. O produto tem sustentabilidade, com menor uso de materiais e redução do desperdício. O sistema é adaptável, trabalhando com produtos customizáveis e possibilitando aplicações em terrenos pequenos, com facilidade de montagem.

Içamento de lajes moldadas

A padronização pode ocorrer de duas formas: a Modular 3D Volumétrica, e a Construção 2D Panelizada. Na 3D, recomendada para prazos exíguos, os módulos prontos e inteiramente metálicos têm montagem rápida, porém seu transporte é complexo – requer infraestrutura viária ampla e equipamentos robustos nem sempre existentes no Brasil. Já a 2 D aproveita diversas técnicas construtivas, sua montagem é simples, há facilidade e otimização do transporte e grande flexibilidade de aplicações. Rosane estima que até 30% do mercado residencial possa ser modularizado.

Como exemplo, ela mostrou o case da obra do Hospital Independência de Porto Alegre, com 60 leitos, executado neste ano em 33 dias, com engenharia brasileira, 100% off-site e sem concretagem nem uso de material úmido. Em outro exemplo, ela mostrou a execução do Rad Urban em 3 D, na Califórnia (EUA).

Para a engenheira, as construtoras deveriam começar estudando a possibilidade de industrializar alguns subsistemas, vendo o que faz sentido para cada uma em cada momento. Deveriam vencer a resistência a repetir projetos, o que facilitaria a modularização. Poderiam variar as fachadas, o revestimento cerâmico. A Gerdau tem buscado divulgar o conceito da coordenação modular em universidades e no Centro Brasileiro da Construção em Aço, para que os projetistas tenham mais clareza.

Ela comentou que ainda há um longo caminho a percorrer, diante de dificuldades como a falta de isonomia tributária entre um insumo produzido na obra e o mesmo na indústria, mão de obra especializada, e falta de infraestrutura viária adequada e de equipamentos pesados para transporte e içamento.

Auxílio do BIM 

Batlouni, Lucio, Andreucci e Rosane, no evento

Introduzindo o mesmo tema, o engenheiro Guilherme Andreucci, desenvolvedor técnico de mercado da área de Marketing da Construção Civil da Gerdau, analisou as causas da baixa produtividade e da reduzida digitalização na construção civil. Afirmou que, em cem anos desde a construção do Edifício Martinelli em 1920, poucos avanços ocorreram nos métodos construtivos.

Ele apontou como complicadores para uma maior produtividade: o custo fiscal, o custo mais elevado da mão de obra industrial e a customização dos projetos. Custos e prazos são determinantes para a decisão de se tirar da obra a fabricação dos componentes. Além disso, a construção trabalha com até mil fornecedores de materiais, e a mão de obra representa até 50% do custo da obra; os materiais ficam 60 dias a 6 meses em estoque. Tudo isso é muito diferente do que ocorre na indústria automobilística, por exemplo, onde o chassi é modularizado e o veículo acoplado a ele, com os materiais permanecendo pouco tempo em estoque.

Andreucci propôs que se projete pensando em como realizar a produção off-site e a montagem de maneira eficiente, com o auxílio de BIM (Modelagem da Informação da Construção). Ele observou que a racionalização da construção, com a utilização de pré-fabricados como steel frames, resulta em construções adaptadas para os ambientes em métodos construtivos sustentáveis, com certificações ambientais.

Recuperação de estrutura 

Obra abandonada no Rio de Janeiro, quando foi assumida pela Conx

O diretor de Construção da Conx Empreendimentos, Aloysio Cyrino, apresentou o case de recuperação das estruturas inacabadas do Dom Condominium e do Dom Offices, no Rio de Janeiro. Trata-se da obra de um conjunto de 3 torres residenciais e 2 comerciais, num total de 78 mil m² de área construída, que havia ficado abandonada por 18 meses. A empresa foi contratada para recuperar as estruturas e concluir a execução em 24 meses, reaprovando os projetos, readequando os mesmos e os espaços, até o Habite-se.

Um perito paulista contratado constatou a existência de estruturas com falhas de alinhamento, e vigas e pilares que requeriam reforços. Um projetista contratado atestou que o projeto estrutural estava de acordo com normas vigentes. Renegociaram-se os contratos com os subempreiteiros, sanando rombos financeiros. A documentação foi checada.

Ensaios mostraram vários concretos com resistências não condizentes com o projeto. Extraíram-se 230 corpos de prova e 137 pilares foram escaneados, sendo 47 recuperados totalmente e 28 cabeças de pilares tiveram de ser demolidas e reconcretadas. A cada dia descobriam-se novos erros anteriores de execução. Uma laje de 1.500 m² precisou ser demolida por concreto não conforme. Utilizaram-se nas recuperações 70 toneladas de graute.

A obra depois da restauração e da conclusão

Realizaram-se diversos reforços, corrigindo problemas de excentricidade. Houve criação de vigas de balanço, reforço de tampa de cisterna em laje de 1.300 m², reforço de viga de caixa de escada, reforço de cabeça de pilar, ajuste de armadura de cabeça de pilar, reforço de pilar com aumento de viga, reforço de pilar com inserção de negativo na viga, reforço de pilar com aumento de seção de viga, criação de console para apoio da viga.

Superados todos esses problemas, a obra foi concluída e o Habite-se tirado dentro do prazo contratual.

Perdeu? Assista 

Todas as palestras dos seminários da Semana da Construção estão disponíveis gratuitamente no canal do SindusCon-SP no Youtube.

Patrocinaram o evento: Atlas Schindler, Gerdau e Saint-Gobain.

Apoio: ABCIC – Associação Brasileira de Construção Industrializada de Concreto, Abece – Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural, Abesc – Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem, Abrava – Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento, ABNT, Abrinstal – Associação Brasileira pela Conformidade e Eficiência das Instalações, Apemec  – Associação de Pequenas e Medias Empresas de Construção Civil do Estado de São Paulo , Apeop – Associação para o Progresso de Empresas de Obras de Infraestrutura Social e Logística, ABNT CB-002 – Comitê Brasileiro da Construção Civil, CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção,  Ibracon – Instituto Brasileiro de Concreto, Fiabci-Brasil, Secovi -SP – Sindicato da Habitação, Sindicel – Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo, Sindinstalação – Sindicato da Indústria de Instalações Elétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias do Estado de São Paulo.

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