Seminário lança normas e guias para racionalização do consumo de água

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Seminário lança normas e guias para racionalização do consumo de água

ilustra_evento_reuso_aguaOs lançamentos do Guia Metodológico de Cálculo de Pegada Hídrica em Edificações e do Guia Orientativo das Normas de Conservação de Água, Fontes Alternativas Não Potáveis e Aproveitamento de Água de Chuva em Edificações foram alguns dos principais destaques do Seminário Conservação de Água e Uso de Fontes Alternativas em Edificações – Diferencial Competitivo para Empreendimentos, que lotou o auditório do Seconci-SP (Serviço Social da Construção), em 26 e 27 de novembro.

Na abertura do evento, o vice-presidente do SindusCon-SP Francisco Antunes de Vasconcellos Neto afirmou que essas normas e publicações “constituem o arcabouço que vai viabilizar o uso racional e consciente da água, dando embasamento técnico às ações e legislações pertinentes e possibilitando o uso seguro deste recurso natural pela população”.

Haruo Ishikawa, presidente do Seconci-SP e vice-presidente de Relações Capital-Trabalho do SindusCon-SP
Haruo Ishikawa, presidente do Seconci-SP e vice-presidente de Relações Capital-Trabalho do SindusCon-SP

Haruo Ishikawa, presidente do Seconci-SP e vice-presidente de Relações Capital-Trabalho do SindusCon-SP, destacou que todas as nove construtoras que acabaram de receber o Prêmio Seconci-SP de Saúde e Segurança do Trabalho já adotam práticas de racionalização do uso da água na construção e na operação de seus empreendimentos.

As novas normas são fundamentais para facilitar a interlocução com o poder público na elaboração de legislações adequadas, afirmou Nilson Sarti, vice-presidente de Meio Ambiente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

Já José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da Fecomercio-SP, disse que água, energia e alimentos são os pilares da sustentabilidade, sendo lamentável o desperdício do líquido. Mario William Esper, presidente do Conselho da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), acentuou que a água é a mais importante dos três pilares, por irrigar o plantio de alimentos e mover as turbinas de geração de energia.

Eduardo Von Schwerin Pimentel, gerente executivo da Caixa Econômica Federal, anunciou que a instituição renovou a certificação Casa Azul para estimular o uso racional dos recursos naturais na construção e no uso de empreendimentos, mediante a maximização dos benefícios para os projetos mais sustentáveis.

Pegada Hídrica

Guia Metodológico para Cálculo de Pegada Hídrica no Setor da Construção Civil
Guia Metodológico para Cálculo de Pegada Hídrica no Setor da Construção Civil

Coordenadora do Comasp (Comitê de Meio Ambiente) do SindusCon-SP e da comissão de estudos da ABNT, que elaborou a norma de conservação de água em edificações, Lilian Sarrouf atribuiu as legislações mal feitas sobre o tema à falta de normas técnicas que lhes deem embasamento e destacou o protagonismo da construção civil na elaboração do regramento.

Segundo Lilian, legislações eficientes devem promover boas práticas, incentivá-las e fornecer diretrizes; e não devem obrigar a determinadas práticas sem viabilidade, especificar soluções, definir questões técnicas, restringir avanços e gerar insegurança. Ela enfatizou que o uso de fontes alternativas pode ser tornar viável se feito de forma articulada entre poder público e iniciativa privada, buscando compatibilizar as leis de saneamento e dos códigos de obras.

Seguiu-se o lançamento do Guia Metodológico de Cálculo de Pegada Hídrica em Edificações, realização do SindusCon-SP com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Caixa, tendo como consultora técnica a empresa Infinitytech Engenharia e Meio Ambiente.

Haroldo de Oliveira Machado Filho, especialista em Desenvolvimento Sustentável do PNUD, enfatizou a importância do guia para a execução de políticas públicas eficazes e lamentou que o Brasil não atingirá a meta da ONU de universalização do saneamento básico até 2030 e dificilmente o fará até 2050.

Virginia Sodré, consultora do PNUD e diretora técnica da Infinityech, explicou que o guia é a publicação pioneira no Brasil que possibilita o cálculo da pegada hídrica. Trata-se de um indicador que mede a quantidade de água total utilizada nos insumos e nos processos construtivos, desde o início do projeto até o fim da vida útil da edificação. A partir desse indicador, incorporadoras, construtoras e clientes poderão tomar decisões com vistas a aperfeiçoar seus projetos e compras, e assim racionalizar o consumo de água. No futuro, os empreendimentos poderão ser etiquetados quanto ao impacto sobre o consumo de água, a exemplo da etiquetagem já existente de equipamentos e edificações, que atesta o grau de eficiência no consumo de energia.

Soluções compartilhadas

Nas áreas urbanas do Brasil, a construção civil responde por 50% do consumo de água potável (contra 21% no mundo). Para fabricação e cura de 1 m³ de concreto, são necessários 160 a 200 litros de água. Aço também demanda elevado volume de água na produção.

Com estes exemplos, Stela Goldenstein, representante para São Paulo do 2030 Water Resources Group, entidade vinculada ao Banco Mundial, preconizou a necessidade de a construção civil racionalizar o consumo de água potável em seu ciclo de produção e buscar fontes alternativas. Para ela, o setor deveria articular soluções compartilhadas com o poder público, realizar acordos setoriais e projetar empreendimentos que levem à redução de até 45% do consumo de água em sua operação.

Já o poder público, segundo Stela, deveria não atrapalhar, contratar obras públicas com requisitos de conservação de água, fiscalizar usos abusivos, regular a destinação de efluentes e se articular com o setor privado na elaboração e no ajuste progressivo de normas.

Ex-secretária do Meio Ambiente de São Paulo, Stela apontou que a desigualdade social, o déficit habitacional e até programas como o Minha Casa, Minha Vida colaboram para o aumento do custo da distribuição da água, ao situar habitações irregulares ou conjuntos habitacionais em regionais periféricas, em vez de estimular o conceito de cidades compactas.

Sedimentos das obras

A construção civil precisa controlar a destinação dos sedimentos de suas obras, que, lançados nos esgotos, elevam os custos de manutenção de galerias pluviais e de dragagem, além de prejudicarem a biota aquática.

Esta foi uma das medidas preconizada por Mônica Porto, assessora da presidência da Sabesp e professora sênior de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Poli-USP. Segundo ela, há necessidade de articulação entre as políticas municipais de uso e ocupação do solo com as políticas estaduais e federais de uso de recursos hídricos, além da adoção de políticas de articulação com usuários, com as políticas setoriais de habitação e transporte e com outras bacias hidrográficas.

Mônica destacou que os custos originados pela ocupação informal dos bairros periféricos não estão incluídos nas estimativas de custos para a universalização do saneamento básico. O crescimento da mancha urbana também eleva a impermeabilização do solo e ocupa várzeas de cursos de água e de áreas de preservação ambiental, acrescentou.

Ela ainda mostrou que projetos de requalificação urbana, como o realizado na área de represa de Guarapiranga, melhoraram a qualidade da água. E citou o programa Água Legal da Sabesp, que busca uma solução para a falta de saneamento nas periferias.

Casa Azul

A certificação da Caixa para empreendimentos sustentáveis, que já tinha as categorias Bronze, Prata e Ouro, ganhou uma nova: Diamante, quando a construtora demonstra a adoção de inovações, informou Eduardo Von Schwerin Pimentel, gerente executivo da Caixa Econômica Federal. A certificação dá direito a condições mais vantajosas de financiamento.

Agora denominada Casa Azul + Caixa, a certificação tem entre seus identificadores de boas práticas a gestão eficiente da água, que inclui como medidas obrigatórias: economizadores de água, medição individual do consumo e existência de áreas permeáveis. Além destas, outras práticas elevam a pontuação, como gestão eficiente de água no canteiro de obras, reuso de águas servidas, aproveitamento de águas pluviais e retenção de infiltrações dessas águas.

Segundo Pimentel, a pontuação se elevará ainda mais com a adoção de cálculo de pegada hídrica eficiente, uso de BIM (Modelagem da Informação da Construção) em projeto e execução, diminuição da pegada de carbono, automação predial, conectividade e ferramentas digitais para estimular práticas sustentáveis.

Realização

O Seminário Conservação de Água e Uso de Fontes Alternativas em Edificações – Diferencial Competitivo para Empreendimentos é uma realização do SindusCon-SP em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), Abes-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, Seção São Paulo), Abrasip (Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais), CBIC, Cirra/USP (Centro Internacional de Referência em Reuso de Água da USP) e Fecomercio-SP.

Leia mais em:

https://sindusconsp.com.br/cbic-lanca-guia-sobre-normas-referentes-aos-recursos-hidricos-na-construcao-civil/

https://sindusconsp.com.br/conservacao-da-agua-deve-preceder-solucoes-de-reuso/

https://sindusconsp.com.br/especialistas-debatem-aproveitamento-de-agua-de-chuva/

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