Retomada mais robusta da construção segue distante

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Retomada mais robusta da construção segue distante

Os dados do primeiro trimestre deste ano indicam que está mantida a perspectiva de uma lenta retomada do crescimento da indústria da construção em 2019, porém nas últimas semanas ficaram mais evidentes alguns fatores que podem colocar esta retomada em risco.

Esta foi uma das conclusões da Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP realizada em 9 de abril, conduzida pelo vice-presidente de Economia, Eduardo Zaidan, com a participação do presidente do sindicato, Odair Senra.

Zaidan manifestou extrema preocupação com o debate travado no governo, na imprensa e nas redes sociais, centrado principalmente em temas ideológicos desprovidos de importância, em vez de se abordar questões estratégicas para o desenvolvimento, como atração de capitais estrangeiros, aumento da produtividade e adoção de políticas voltadas a setores fortemente geradores de emprego, como a indústria da construção. “O país ainda vai demorar a pacificar o debate e eleger mais políticos qualificados para responder aos desafios da agenda nacional”, comentou.

Dizendo-se pessimista com uma retomada mais robusta da economia no curto prazo, o vice-presidente observou que o governo não está conseguindo fazer a demanda agregada reagir. As empresas seguem com elevada capacidade ociosa, distantes, portanto, de investirem em expansão desta capacidade; o desemprego elevado afeta as famílias, mantendo reduzido o nível de consumo e obstaculizando a realização de investimentos de longo prazo. “A saída está no capital externo, mas para atraí-lo serão necessárias mais regulação e garantias, além da Reforma da Previdência”, afirmou.

Em sua exposição, Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção da FGV/Ibre, elencou cinco fatores de risco para a retomada da construção: o esvaziamento da proposta de Nova Previdência; uma piora no cenário externo; a interrupção dos pagamentos do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), o declínio da confiança dos consumidores e uma piora da confiança dos investidores.

A economista mostrou os dados do setor do primeiro bimestre, denotando ligeira melhora na comparação com o mesmo período do ano passado. Mas manifestou preocupação com o nível minguante de recursos do governo para o MCMV, com a insuficiência de investimentos em infraestrutura para a própria manutenção do que já existe, e com a queda da confiança dos empresários do setor, registrada em março na Sondagem da Construção.

As incertezas afetaram negativamente as expectativas do mercado financeiro, que em três meses reduziu a estimativa de aumento para o PIB de 2019, de 2,55%, para de 1,97%. Nesta perspectiva, Zaidan e Ana Maria ainda mantiveram a estimativa de elevação do PIB da construção para este ano em 2%, porém com viés de baixa. E recordaram que esta elevação deverá ser puxada pelos segmentos de reformas e autoconstrução, e não pelo setor formal das construtoras.

Risco tributário

Ao analisar a conjuntura, o economista e professor da FGV Robson Gonçalves apontou para a necessidade de se adotarem outras medidas além da Reforma da Previdência, até porque os efeitos desta reforma sobre a economia ainda tardarão em se fazer sentir.

Uma das medidas decididas no governo para colaborar com o reequilíbrio das finanças públicas é a reforma tributária. Entretanto, Gonçalves alertou para determinados detalhes dos projetos em estudo, que poderão onerar a indústria da construção e desestimular investimentos no setor.

Exemplificando, o economista citou que a tributação de dividendos, dependendo da maneira como for feita, poderá exterminar o uso de Sociedades de Propósito Específico na incorporação e construção de empreendimentos imobiliários. O Imposto sobre Valor Agregado, a uma alíquota de 25%, poderá encarecer os materiais de construção. Uma eventual redução dos encargos trabalhistas poderá afetar o volume de recursos do Fundo de Garantia destinados ao financiamento da habitação.

Segundo Gonçalves, a indústria da construção não precisa de benesses, mas de determinados estímulos, como acontece em outros países com economias relevantes. O efeito desses estímulos fará a construção crescer e empregar, elevando o percentual de incremento do PIB nacional, argumentou.

 

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