Opinião: A construção digital

Redação SindusCon-SP

Por Redação SindusCon-SP

Opinião: A construção digital

No Boletim Macro de março, a projeção do FGV IBRE aponta um crescimento de 1,1% para o PIB da Construção em 2018, sinalizando que 2017 encerrou definitivamente o ciclo de quatro anos que deixou o PIB setorial 20% menor. No entanto, se mantiver esse ritmo de crescimento, o setor levará quase 20 anos para recuperar o patamar alcançado em 2013.
De fato, a retomada não parece robusta, mas os indícios são consistentes: na edição de março, a Sondagem da Construção, calculada pelo FGV IBRE, mostrou que o Índice da Situação Atual (ISA), que registra a percepção em relação à situação corrente dos negócios do empresariado, estava dez pontos acima do patamar mínimo, alcançado em maio de 2016.
Com tantos gargalos a serem resolvidos na infraestrutura e habitação, por exemplo, parece indiscutível e necessidade de o país aumentar a velocidade de crescimento do setor.  Mas o ciclo de 2007 a 2013, quando a taxa média de crescimento alcançou 7,1%, trouxe à tona as limitações de um setor ainda essencialmente artesanal e com uma produtividade bastante baixa: houve falta de mão de obra qualificada, ocasionando a elevação dos custos acima da produtividade.
Em contrapartida, o “apagão” de mão de obra do período determinou o início de algumas mudanças: preocupadas com a baixa produtividade, algumas empresas começaram a investir em novos processos construtivos e em inovação.
Uma dessas inovações que vem ganhando força é o Building Information Modeling (BIM), uma ferramenta que cria a construção virtual, integrando as informações relativas à obra, desde a fase de projeto até a execução, chegando também à manutenção predial pós-obra.
Os modelos digitais de obras possibilitam acesso a uma grande quantidade de informações, que são disponibilizadas de forma precisa e padronizada, contribuindo para direcionar a fabricação e a aquisição de componentes por meio dos quais a construção é realizada.
Segundo Carvalho (2016),[1] essa é uma inovação que pode aumentar substancialmente a produtividade do setor,  pois possibilita que arquitetos, engenheiros, mestres de obra e gestores trabalhem em conjunto, facilitando tarefas de compatibilização e detecção de erros ainda nas fases iniciais de projeto. A integração deve se dar também com os fornecedores da obra, que precisam criar bibliotecas BIM de seus produtos, ou seja, transformar a nomenclatura dos produtos em um padrão que possa ser utilizado pelo modelo.
Por isso, o BIM é entendido como uma questão que diz respeito à toda a cadeia da construção, exigindo uma grande mudança na cultura organizacional e disponibilização de informação e de gestão do processo construtivo. Com tantos entes envolvidos, sua implantação não é simples, especialmente, porque exige uma qualificação adicional de todas as partes.
Os benefícios já têm sido amplamente mensurados em vários países que já adotam a ferramenta, como EUA, Reino Unido e Singapura, entre outros, onde a disseminação do BIM está bastante avançada. Em muitos países, como o Reino Unido, por exemplo, a utilização do BIM em projetos de infraestrutura já é mandatória.
Na América Latina, o processo de implantação está se iniciando no Chile e no Peru.
É importante observar que especialmente para os projetos de infraestrutura, a sinalização do Estado é parte fundamental de uma estratégia de disseminação dessa ferramenta.
No Brasil, o BIM já é utilizado por várias empresas de todos os segmentos. No ano passado, por meio de decreto presidencial, criou-se o Comitê Estratégico de Implementação do BIM, constituído por vários Ministérios, em conjunto com entidades privadas do setor. O objetivo é fazer o lançamento da Estratégia Nacional de Disseminação do BIM, em julho de 2018.
Para verificar o grau de utilização e conhecimento da ferramenta no país, em março, a Sondagem da Construção incluiu algumas questões relativas ao tema. O resultado mostrou que ainda é baixa a participação das empresas no uso do BIM: apenas 9,2% utilizam esta ferramenta. Em termos de segmento, o BIM está mais disseminado entre as empresas de Edificações Residenciais (13,9%).
Participação das empresas que usam BIM
O desafio que o setor tem para tornar o BIM mais disseminado mostra-se na pesquisa: além do baixo percentual que reporta usar esta ferramenta, há uma elevada sinalização de empresas que informaram que não sabem se usa esta ferramenta, o que é um indicativo de desconhecimento. Outro ponto negativo é o fato de que nenhuma empresa do segmento de Obras de Acabamento reportou o uso do BIM, o que ratifica que essa ferramenta não está disseminada em todo processo produtivo. Este segmento é notoriamente de mais baixa produtividade em relação aos demais.  Vale observar também que o percentual de utilização entre as empresas de infraestrutura é inferior à média do setor.
Enfim, há um longo caminho a percorrer, mas já foi dada a partida, o que é bastante promissor.
[1] Carvalho, Pedro Manuel Paiva (2014) – Análise Estatística do Estado de Implementação da Tecnologia BIM no Setor da Construção em Portugal.
*Ana Maria Castelo
Mestre em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), onde também atuou como pesquisadora. Desde 2010 é coordenadora de Projetos da Construção na Fundação Getulio Vargas/IBRE onde comanda e desenvolve estudos e análises setoriais. É responsável pela divulgação do INCC-M e da Sondagem da Construção da FGV. É professora da disciplina Economia da Construção no curso de MBA da Construção da FGV.
Itaiguara Bezerra
Mestre em Finanças e Economia Empresarial pela Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE/FGV) e Bacharel em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Coordenador da Superintendência Adjunta de Ciclos Econômicos do IBRE, responsável pela Sondagem da Construção, Sondagem da América Latina, Indicadores de Mercado de Trabalho e de outras pesquisas. É professor da Pós Graduação Lato Sensu da Universidade Grande Rio (Unigranrio).
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional do SindusCon-SP.

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