ESG é estratégica para as empresas e veio para ficar 

Rafael Marko

Por Rafael Marko

ESG é estratégica para as empresas e veio para ficar 
Renato Genioli, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP

Agregam valor aos seus negócios as empresas que incorporam a cultura ESG – sigla em inglês para responsabilidade ambiental, responsabilidade social e boa governança. Estas práticas vieram para ficar e se tornam cada vez mais relevantes para a própria sobrevivência das corporações no longo prazo.

Estas reflexões foram unânimes entre os palestrantes do 7º Encontro de Construtoras e Incorporadoras, realizado por SindusCon-SP e Secovi-SP (Sindicato da Habitação), em 29 de junho, com o tema “O ESG nos negócios imobiliários: alinhando conceitos e colocando em prática”.

Na abertura do evento, Odair Senra, presidente do SindusCon-SP, afirmou que as práticas de ESG ganham importância a cada dia para o construtor e o incorporador.

Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP, defendeu que a empresa vá além de gerar dividendos e passe a produzir benefícios para a sociedade, o meio ambiente, a cidade. “Para isso, a condição são as diretrizes ESG. Com elas em mente, teremos um papel a desempenhar no futuro. Manter as regras do século 20, de só gerar lucros, não vai dar certo. Secovi-SP e SindusCon-SP se uniram em mais esse campo, proporcionando conhecimento sobre essas letrinhas que vão mudar nossa vida. Vai virar e temos que fazer parte.”

Renato Genioli, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, destacou que “o tema de ESG é muito familiar para nós da construção. Há 21 anos, o SindusCon-SP vem capacitando as construtoras nesta área, e tem contribuído com os governos nas políticas que estimulam uma construção sustentável.”

“Buscamos soluções sustentáveis que sejam tecnicamente e economicamente viáveis. Soluções que beneficiem o meio ambiente. E que economizem recursos às construtoras e aos usuários dos empreendimentos. No campo social, nossa atividade é inclusiva e não discriminatória. É muito crescente o emprego de mulheres em todas as funções. Nossos cursos e eventos destacam a importância da igualdade de direitos e de oportunidades em termos de gênero, raça, etnia, orientação sexual e pessoas com deficiências”, destacou.

Segundo Genioli, “no tocante à boa governança, nossas empresas se atualizam constantemente com as boas práticas e as novidades gerenciais, tributárias e legislativas, como o respeito à Lei Geral de Proteção de Dados e os modelos de gestão que elevem o compliance e a produtividade do negócio”.

Alinhando os critérios 

Fabio Villas Bôas, da Tecnisa

Fábio Villas Boas, coordenador dos Comitês de Tecnologia e Qualidade e de Meio Ambiente do SindusCon-SP, explicou como a Tecnisa, empresa de capital aberto da qual é vice-presidente, está alinhando os critérios ESG com as práticas de sustentabilidade e governança que já adota.

Segundo Villas Bôas, a empresa montou um grupo com representantes das várias áreas para diagnosticar suas práticas ESG e a aderência de suas ações aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Em uma escala de 0 a 5, a nota dada pelo grupo foi 3,79. Agora, o questionário de avaliação será estendido a todos os funcionários da empresa.

Comentando que o banco Itaú tem uma linha de crédito com bonificações para empresas com práticas ESG, ele condenou a maquiagem verde (greenwashing, quando se busca aparentar adesão àquelas diretrizes, mas sem sua adoção efetiva), “algo totalmente adverso à transparência em relação aos públicos de interesse”.

Villas Bôas relatou as práticas sustentáveis adotadas na construção do empreendimento Jardim das Perdizes, o primeiro a receber a Certificação Acqua na América. Além dos conselhos, auditorias e comitês já existentes para instituir aquelas diretrizes, a empresa instituiu um novo, visando a aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados. Busca-se uma participação de mulheres nos conselhos de 50%. Uma política de controle de gestão de riscos foi implementada. Há foco na capacitação para uma inclusão maior, inclusive de mulheres para atividades nas obras. Entre outras práticas para melhorar a vida dos colaboradores, oferece-se suporte psicológico durante a pandemia. Já em 2004 a empresa havia edificado, em conjunto com a Cyrela, um empreendimento gay friendly, sucesso de vendas e implantação.

No Jardim das Perdizes, implementou-se uma série de inovações para diminuir a pegada de carbono, impedir inundações e baratear o condomínio, além de se criar um parque público de 50 mil m² que passou a ser gerido pela associação de moradores local. O canteiro de obras adota soluções econômicas e sustentáveis, como hortinha comunitária, compostagem, uso de painéis solares a gás para chuveiros, captação de água da chuva, descarga controlada, programas de bricolagem, capacitação, alfabetização de adultos, levar os trabalhadores a espetáculos na Sala São Paulo e segregar resíduos.

Ele relatou que já estão no mercado dois projetos da Tecnisa com a nova certificação Fitwel, visando a criação de ambientes que melhorem a saúde e o bem-estar dos ocupantes dos empreendimentos. E citou a CeCarbon – Calculadora de Consumo Energético e Emissões de Carbono na Construção Civil, lançada recentemente pelo SindusCon-SP para as construtoras medirem suas emissões.

Boa governança 

Carlos Borges, da Tarjab

Carlos Borges, vice-presidente de Tecnologia e Sustentabilidade do Secovi-SP, mostrou como a Tarjab, empresa de capital fechado que preside, instituiu a governança.

A boa governança alinha interesses de todas as partes envolvidas, cria valor e diminui riscos, explicou. Para tanto, são necessários: filosofias e princípios claros, como ética, inovação, sistema de integridade; ter fóruns bem estabelecidos, estrutura organizacional clara, com papéis claros, separando a família da gestão; adotar acordo de acionistas, código de conduta, sistemas de auditoria; ter políticas de prestação de contas, de compliance e um canal de denúncias anônimas.

Segundo Borges, mesmo uma empresa de pequeno porte pode adotar um acordo de acionistas. São necessários: a definição de modelo de negócio da empresa, o que se pode e o que não se pode fazer, organograma e mandatos da diretoria, clareza no modelo de gestão, política de remuneração de dividendos, divulgação de resultados e prestação de contas, auditoria por empresa de primeira linha, regras para entrada e saída para sócios e diretrizes de combate à corrupção.

Tanto ele como Villas Bôas recomendaram a leitura da cartilha do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e a adesão aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU em relação a aspectos como meio ambiente, diversidade, inclusão.

Borges disse considerar a governança como sendo a linha mestra de uma política ESG, o que é diferente de se adotar apenas algumas questões pontuais de sustentabilidade para responder a alguma necessidade ou fazer greenwashing. Recomendou tratar a questão com cuidado e planejamento, observando que a política ESG só ocorrerá se houver congruência com o propósito da empresa, com a adoção de uma estratégia corporativa e a disposição de arcar com os custos de sua implementação.

Desafios 

Ana Rocha, da proActive

Ana Rocha, da proActive,  destacou a importância dos critérios ESG no futuro dos negócios, ante o resultado de uma pesquisa segundo a qual 85% dos consumidores buscam soluções sustentáveis.

Segundo ela, os desafios ao setor imobiliário são: desenvolver inteligência de mercado e de programas que orientem os públicos interno e externo à cultura ESG, tornando as empresas referências em seu setor de atuação; aprimorar processos construtivos; usar materiais baseados em economia de carbono; e incorporar o conceito de economia circular, baseada em redução, reuso e reciclagem.

Ana Rocha manifestou-se a favor de instituir indicadores, metas e métricas que comprovem um compromisso real com as diretrizes ESG e uma regulação específica para o setor, culminando na criação de uma entidade independente para aplicar um selo. Recomendou que se busquem obter as certificações existentes de sustentabilidade.

“É uma questão de sobrevivência. Aprendemos na pandemia que, para sermos mais resilientes, precisamos ser mais sustentáveis. E agora o ESG é exigido pelo mercado financeiro. Não há outro caminho. A análise de risco está calcada nas decisões corporativas e nas obras. As empresas precisam mudar a forma como comunicam essas novas ações e seus benefícios para o mercado consumidor”, assinalou.

Exigência crescente 

Aron Zylberman, do Instituto Cyrela

Aron Zylberman, diretor executivo do Instituto Cyrela, chamou a atenção de que os critérios ESG pesam nos escores de análise de risco de instituições financeiras, fundos de investimento e seguradoras.

Segundo ele, o fator econômico sempre estará presente no ESG. Os investimentos em responsabilidade social têm um custo, mas também proporcionam retorno à empresa, em termos de elevação da produtividade.

Zylberman chamou a atenção para a importância de se tratar bem todos os públicos de interesse, especialmente os colaboradores mais vulneráveis. Defendeu que as empresas, dentro das possibilidades do negócio, busquem: tratar as pessoas muito melhor; remunerar mais; implementar condições decentes nas obras; ter responsabilidade com as comunidades no entorno ao longo do processo construtivo, investindo em escolas, creches, organizações que tragam benefícios; não ser coniventes com práticas ambientais condenáveis.

No evento, as patrocinadoras Atlas Schindler, Gerdau e Comgas exibiram vídeos de seus produtos. A mediação foi de Patrícia Bittencourt, gestora de Projetos da Vice-presidência de Tecnologia e Sustentabilidade do Secovi-SP, e de Roberta Bigucci, coordenadora de Projetos Sociais Especiais daquela entidade.

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