Construcarta Conjuntura: Repique Inflacionário

Redação SindusCon-SP

Por Redação SindusCon-SP

Construcarta Conjuntura: Repique Inflacionário

A inflação no Brasil é, sem dúvida, um fenômeno surpreendente. Ausente do topo da lista de preocupações econômicas até poucas semanas atrás, a alta do nível de preços ressurgiu há dias por conta de um somatório quase improvável de fatores.
Em abril, o IPCA-15, prévia do índice oficial de inflação, acusou alta de 0,72%. Essa foi a quarta alta seguida do indicador que, em janeiro, havia variado apenas 0,3%. Com isso, a inflação acumulada em doze meses medida por esse indicador saltou de 4,18% em março para 4,71% em abril. Comportamento semelhante deve ser observado no IPCA, referência para o regime de metas para a inflação, a ser divulgado nos próximos dias.
Esse repique inflacionário é digno de nota por vários motivos. Antes de tudo, marca a ultrapassagem do centro da meta do Banco Central, fixada em 4,25% para 2019 e em 4% para 2020. Como consequência, caso a trajetória atual se mantenha, é possível que o Bacen seja obrigado a elevar novamente a taxa de juros básica (Selic) no médio prazo. Essa é, por sinal, a expectativa do mercado revelada pelo Boletim Focus, que projeta uma elevação de 1 p.p. na Selic entre o final de 2019 e o final do ano próximo.
O outro elemento em destaque se refere às pressões que estão causando esse repique. No front dos alimentos, um dos maiores vilões tem sido a carne. Problemas com a produção chinesa, sobretudo de suínos, somados à taxa de câmbio favorável, têm incentivado as exportações e feito com que o preço interno suba. Em abril, o grupo alimentos do IPCA-15 teve alta de 0,92% depois de já ter se elevado mais de 1% no mês anterior. Esse comportamento dos preços dos alimentos poderá se repetir em maio em função da elevação dos custos de transporte que, por sua vez, está sendo pressionado pela alta recente do diesel e da tabela de fretes.
Por fim, não se pode desprezar a pressão vinda diretamente das variáveis externas. Considerando as médias mensais, o dólar registrou alta de 4% entre janeiro e abril. Em paralelo, os preços do petróleo atingiram em abril a cotação mais alta dos últimos meses, reflexo das tensões políticas entre EUA e Irã. Foi exatamente essa combinação que levou a Petrobrás a elevar o preço do diesel, apesar da interferência presidencial recente.
O que se pode notar é que o comportamento da inflação está sendo determinado por elementos de custo, dada a persistente debilidade da demanda que, ao contrário do que se esperava no início do ano, continua a andar de lado.
Resta esperar pelas próximas reuniões do Copom para saber qual a avaliação do Banco Central a respeito da dinâmica dos preços. É possível que o Copom avalie que as pressões de custo poderão ser revertidas a médio prazo, mantendo a Selic por mais tempo no patamar atual. Se um novo ciclo de alta de juros for iniciado, tornará tudo mais difícil, seja em termos de recuperação da demanda, seja em termos do ajuste das contas públicas.

As informações são do Construcarta Conjuntura nº 689

A íntegra do arquivo está disponível aqui

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