Construcarta Conjuntura: Choque inflacionário?

Redação SindusCon-SP

Por Redação SindusCon-SP

Construcarta Conjuntura: Choque inflacionário?

No vocabulário dos economistas existe um termo que, vez por outra, volta à tona: passthrough. Em uma tradução livre, essa expressão se refere ao grau de repasse das variações cambiais para a inflação.

No regime de metas vigente no Brasil, o índice de referência para o Banco Central é o IPCA, indicador que reflete o padrão de gastos das famílias entre 1 e 40 salários-mínimos. Atribuindo grande ponderação às despesas com serviços, o IPCA se mostra mais estável e, portanto, menos sujeito ao pass-through, seja nos momentos de alta ou de baixa da taxa de câmbio. E, de fato, nos 12 meses encerrados em outubro passado, enquanto a taxa de câmbio acumulou alta de 37,5%, o IPCA teve variação de apenas 3,92%. No outro extremo, muito mais sujeito ao pass-though por conta do peso expressivo dos preços ao produtor e das commodities, o IGP teve alta acumulada de 21%.

A experiência histórica mostra que o grau de repasse das variações cambiais para a inflação, sobretudo no caso dos índices ao consumidor, depende do ritmo da demanda em geral e das vendas no varejo em particular. Esse é o principal motivo da aceleração recente do IPCA, considerados por alguns analistas como um choque inflacionário. Assim, em maio passado, a variação acumulada desse índice em 12 meses era de 1,88%, abaixo de 2,5%, o piso do intervalo de tolerância da meta inflacionária de 4%. Desde então, o IPCA acelerou, apresentando altas de 0,64% e 0,86% em setembro e outubro, respectivamente. Em grande medida, isso se deveu à rápida recuperação do varejo, impulsionada pelo auxílio emergencial.

Reconhecido o choque, é preciso dimensioná-lo tendo como parâmetro a meta inflacionária de 4%, válida tanto para 2020 quanto para 2021. Segundo o Relatório Focus, a mediana das expectativas do mercado para a variação do IPCA no ano corrente é de 3,4%, mesmo nível da projeção feita para o próximo ano. Em outros termos, dado o “tombo” da atividade econômica no segundo trimestre e as incertezas sobre o comportamento da demanda nos meses à frente, o mercado não espera sequer que a inflação ao consumidor chegue ao centro da meta inflacionária.

É bem verdade que esse desempenho da média dos preços ao consumidor esconde importantes mudanças de preços relativos, com o encarecimento comparativo de alimentos e queda em itens como serviços pessoais e mesmo aluguéis. Seja como for, a dimensão do atual choque inflacionário pode ser classificada como modesta e – infelizmente – limitada pela debilidade da demanda que restringe o contágio cambial.

A íntegra da análise realizada pela FGV em parceria com o SindusCon-SP está disponível aqui.

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