Construção mantém incerteza sobre as perspectivas para 2021 

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Construção mantém incerteza sobre as perspectivas para 2021 

Apesar da surpreendente notícia da alta de 2,1% do PIB da construção no primeiro trimestre deste ano comparado ao quarto trimestre de 2020, persiste o clima de incerteza em relação ao desempenho da economia e do setor em 2021.

Esta foi a percepção registrada na Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP em 8 de junho, conduzida por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da entidade, e ao final por Odair Senra, presidente. O encontro buscou entender por quê dados positivos como os do PIB destoam da percepção pessimista dos empresários da construção.

Em sua apresentação, Robson Gonçalves, professor da FGV, afirmou que, no segundo trimestre, a construção pode não repetir o resultado do primeiro. De um lado, a taxa calculada pelo IBGE reflete a produção de materiais e a evolução do emprego setorial. De outro, boa parte da Formação Bruta de Capital se deve à recomposição de estoques. É possível que haja uma queda no ritmo desses fatores.

De acordo com o economista, se o ritmo de aumento do PIB do primeiro trimestre se mantivesse, em 2021 a economia cresceria 4,9% e a construção, 3,1%. Mas levando em consideração fatores como o recuo da taxa cambial e a alta da taxa de juros, o FGV/Ibre prevê que o PIB nacional possa crescer 4,2% e o da construção, 2,6%.

Ele ainda apresentou dados da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), mostrando que o PIB aumentou 5,9% e a construção cresceu 17,6% no Estado de São Paulo no primeiro trimestre, em comparação com o mesmo período de 2020. Em projeção, teríamos em 2021 uma elevação do PIB estadual de 6,7% e do PIB da construção paulista de 9,7%.

Segundo Gonçalves, se o baixo consumo das famílias, o setor de serviços e os investimentos em máquinas e equipamentos não derem sinais vigorosos de recuperação, não é certo que o crescimento observado no primeiro trimestre se repita. “A pandemia mostrou que o desempenho da economia também é impactado por fatores como a saúde da população e o isolamento social. Prognósticos feitos no ano passado se mostraram equivocados. A incerteza persiste.”

Ameaças à vista 

O momento ainda está carregado de incertezas, reforçou Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV/Ibre. Ela citou como ameaças ao desempenho da construção a inflação, a elevação dos juros, os custos com materiais, o crescente endividamento das famílias, possíveis novas ondas de Covid-19, a questão energética e a demanda insuficiente. “Para que o crescimento da construção se sustente, a economia precisa voltar a crescer, elevando o nível de ocupação no mercado de trabalho e a renda.”

A economista lembrou que em 2009 os números também não refletiam o que estava acontecendo na construção. Mesmo com o crescimento no primeiro trimestre deste ano de 2021, o PIB do setor está 34% abaixo do pico alcançado em 2014 e sua participação no PIB nacional se reduziu a 2,61%, o menor percentual desde 1995.

Segundo Ana Maria, embora os dados do Caged mostrem uma elevação do emprego no setor, os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios) revelam queda na ocupação. A Sondagem da Construção mostrou um aumento do pessimismo entre os empresários do setor desde outubro, que arrefeceu um pouco em maio. Preços de materiais e demanda insuficiente lideram as dificuldades ao negócio. O segmento menos pessimista é o de preparação de terrenos.

No aumento do emprego, a maior contribuição vem sendo dos segmentos de edificações e serviços especializados (instalações prediais e acabamento) e menos em infraestrutura, ao contrário do que ocorreu no ano passado, e com destaque para as contratações na região Sudeste. Mas há desaceleração no ritmo das contratações.

O destaque é o crescimento significativo das obras em andamento do mercado imobiliário, em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Na comparação entre o primeiro trimestre do ano passado para o mesmo período deste ano, o número de unidades em construção cresceu de 20 mil para 30 mil. O volume de crédito imobiliário situa-se próximo ao do pico de 2013, denotando ciclo positivo de atividade. Já as contratações com recursos do FGTS estão em queda. E as reformas ainda sustentam o crescimento de vendas de materiais, embora com menor ímpeto.

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