Conservação da água deve preceder soluções de reuso

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Conservação da água deve preceder soluções de reuso

Antes de oferecer soluções de reuso de água em empreendimentos, deve-se avaliar se todas as opções de conservação do recurso natural foram consideradas. Depois, não se devem vender ao cliente soluções desprovidas de viabilidade econômica e técnica.

As recomendações foram feitas por Virginia Sodré, diretora técnica da Infinitytech, no segundo dia do Seminário Conservação de Água e Fontes Alternativas em Edificações, em 27 de novembro, no Seconci-SP (Serviço Social da Construção).

Tais cuidados foram adotados no projeto do empreendimento Vista Clementina, da Trisul, com 80 apartamentos. Segundo Virginia, uma abordagem integrada da análise de projetos foi fundamental para a eficiência do reuso de águas cinza claro das unidades residenciais, para utilização em bacias sanitárias, irrigação do jardim e lavagem das áreas externas.

Para segurança dos usuários, acrescentou a especialista, as unidades que compõem o sistema e as respectivas tubulações no shaft foram devidamente identificadas e manuais orientativos aos proprietários e ao síndico foram disponibilizados.

Uma apresentação detalhada sobre a norma de reutilização foi feita por José Carlos Mierzwa, diretor técnico do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra) da USP. Ele chamou a atenção para os benefícios da norma, entre outros: minimizar custos; mitigar a escassez de água; informar os usuários sobre benefícios e riscos; e estimular a adoção das práticas mais modernas, assegurando confiabilidade aos sistemas.

Mierzwa destacou a preocupação do grupo que elaborou a norma, constituído por cerca de 100 participantes de 66 instituições, de assegurar a observação de padrões de qualidade para proteger os usuários, em casos de ingestão acidental de água não potável. Apontou itens relevantes, como adotar procedimentos de frequência de amostragem, e evitar ligações cruzadas com água potável.

Múltiplos usos

Soluções de reuso devem considerar, além da viabilidade técnica que assegure sustentabilidade ambiental, social e econômica, a segurança da operação e o retorno do investimento. Foi o que apontou Jessica Silva Araújo, engenheira de vendas da Zeppini/Hydro Z.

Ela apresentou uma solução residencial para rega de jardins e lavagem de piso, que proporcionou uma economia de 25% no consumo de água potável com payback em 2 anos e 5 meses; e outra solução para o tratamento de águas cinzas em um hotel, por sistema de eletrocoagulação e membranas de nano para filtração, com pay back em 2 anos e 3 meses.

Em São Bernardo, a Zeppini trata seu esgoto por lodo ativado, e o reutiliza em torre de ar condicionado, jardim e lavagem, com pay back de 3 anos e 6 meses. O equipamento está à disposição para visitação.

Situação de deserto

Com a disponibilidade hídrica de apenas 130 m³/habitante/ano de água (irrisórios 10% do limite já considerado crítico), a Região Metropolitana de São Paulo equipara-se à de países como Singapura e Israel, com a diferença de que estes estão à frente em termos de conservação e reuso de água . Além disso, aqui se coletam 90% de esgotos, mas apenas 48,5% são tratados.

Ao mostrar este cenário, Fernando de Barros Pereira, vice-presidente da General Water, apresentou dois cases. No World Trade Center, em São Paulo, a empresa implementou um sistema de adução por poços artesianos que vão buscar água entre 300 e 400 metros de profundidade,  e um tratamento de efluentes para reuso por lodo e osmose reversa com adição de corante azul.

Com isso, desde 2002, o WTC dispensou o abastecimento da Sabesp, assegurou eficiência hídrica e proporcionou uma economia financeira de 40%.  O volume de água que deixa de ser requerido da concessionária pode abastecer 2.600 habitantes.

Na Cidade de Deus, sede do Bradesco em Sorocaba, a empresa implementou um sistema em que 7 poços asseguram 80% do abastecimento da água aos 15 mil colaboradores diretos e 3 mil indiretos do local. Silencioso e sem vazão de odor ao exterior, o sistema de tratamento tem uma área externa utilizada como centro de convivência dos funcionários.

Gestão das soluções

O ponto chave da atuação do grupo mexicano Rotoplas/Sytesa é a forma de gestão das soluções, desde o estudo de cada caso, passando pelo desenvolvimento e implementação da solução até a entrega do ativo para o cliente.

Foi o que mostrou em sua apresentação Daniel Kuchida, gerente de Novos Negócios e Serviços da Acqualimp, empresa brasileira integrante daquele grupo. Ele exibiu as soluções utilizadas em cisternas, biodigestores e outros equipamentos. A empresa foi a responsável pelos milhares de equipamentos de aproveitamento de água de chuva, implementados no Nordeste brasileiro.

Com aplicações em lavagem, irrigação e torres de resfriamento, a tecnologia norueguesa do sistema de biomidias com resina plástica virgem para reutilização de água sem corante e pay back de 25 meses, no hotel Ibis Congonhas da rede Accor, foi apresentado por Tony Castillo, engenheiro técnico da DAS Brasil.

Ele também mostrou o sistema recentemente implementado no Clube Pinheiros, em São Paulo, com pay back de apenas 5 meses, uma vez que a empresa continua cobrando pela operação. Castillo ainda relatou diversos fornecimentos da empresa no mundo, entre os quais uma proposta para tratamento de água às forças armadas norte-americanas.

Detalhes das normas

O engenheiro Luciano Zanella, do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), chamou a atenção para uma série de pormenores a serem observados nas normas técnicas de conservação e reuso. Entre estes, citou a investigação sobre a origem da fonte de água não potável, sua classificação em diversos tipos, a periodicidade do monitoramento da qualidade da água tratada, os pontos de coleta e as técnicas de amostragem.

Pesquisa realizada pelo especialista apontou que, no mercado, os custos das análises laboratoriais de amostras de água tratada de efluentes situam-se em média em R$ 3.780 para habitação unifamiliar e R$ 21.850 para unidade multifamiliar. Já na água de chuva, estão entre R$ 250 e R$ 410.

Nos debates que se seguiram, Luis Euardo Grisotto, diretor da Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental), chamou a atenção para a necessidade de as cidades estarem preparadas para crises hídricas e para os fatos de que a água ficará cada vez mais cara, enquanto os projetos de reuso tendem a se sofisticar e ficar mais baratos.

Sobre a viabilidade de implementação desses sistemas em empreendimentos do Programa Minha Casa, Minha Vida, houve consenso em que estes podem ser mais viáveis apenas em grandes conjuntos habitacionais, sendo preferível optar por soluções de conservação.

Realização

O Seminário Conservação de Água e Uso de Fontes Alternativas em Edificações – Diferencial Competitivo para Empreendimentos é uma realização do SindusCon-SP em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), Abes-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, Seção São Paulo), Abrasip (Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais), CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Cirra/USP (Centro Internacional de Referência em Reuso de Água da USP) e Fecomercio-SP.

Leia mais em:

https://sindusconsp.com.br/cbic-lanca-guia-sobre-normas-referentes-aos-recursos-hidricos-na-construcao-civil/

https://sindusconsp.com.br/especialistas-debatem-aproveitamento-de-agua-de-chuva/

https://sindusconsp.com.br/seminario-lanca-normas-e-guias-para-racionalizacao-do-consumo-de-agua/

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