Comitê preconiza implementação de uma cultura de SST 

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Comitê preconiza implementação de uma cultura de SST 

A elaboração de uma cultura de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) precisa ir além da simples observância de um plano de gestão e da aplicação das Normas Regulamentadoras (NRs). Deve incluir medidas como conectar as regras com o nível local dos trabalhadores, desenvolver práticas mais participativas, recuperar a experiência das situações em que o acidente não aconteceu e criar ferramentas reais de se evitar o risco, transformando os Diálogos Diários de Segurança em verdadeiros diálogos, e não em monólogos dos profissionais de segurança, como costuma ocorrer.

Estas colocações foram feitas por Raoni Rocha Simões, professor da Universidade Federal de Ouro Preto, na 9ª reunião deste ano do Comitê Permanente Regional de São Paulo (CPR-SP) da NR 18 – SST na Indústria da Construção, realizada on-line em 9 de novembro.

Em sua apresentação, Simões chamou a atenção sobre a necessidade de se entender as razões das falhas de gestão e de aplicação da SST, o comportamento dos trabalhadores e o funcionamento da empresa durante o trabalho, a fim de atuar na diminuição dos acidentes. Alertou que, quanto mais complexo for o sistema de segurança, mais os riscos de acidentes aumentam. Ponderou que uma regra pode não ser seguida se o trabalhador sentir que ela coloca sua segurança em risco, como no caso de não se utilizar o corrimão de uma escada de obra por ele estar muito danificado.

Para o professor, a análise de um acidente não pode parar no erro, e sim partir daí, investigando como e por que ele aconteceu, se a regra criada para evitá-lo se mostrou falha e precisa ser reelaborada. A empresa não deve se contentar em medir a eficácia de sua gestão tomando por base os acidentes que já ocorreram, mas também trabalhar com eventos potencialmente geradores de acidentes e criar mecanismos para medi-los.

Cultura fundamental 

O vice-presidente de Relações Capital-Trabalho do SindusCon-SP e presidente do Seconci-SP (Serviço Social da Construção), Haruo Ishikawa

Na abertura da reunião, Haruo Ishikawa, presidente do Seconci-SP (Serviço Social da Construção) e vice-presidente de Relações Capital-Trabalho do SindusCon-SP, afirmou que “a cultura da segurança é fundamental no Brasil” e elogiou os participantes do governo e das entidades patronais e sindicais, “todos abnegados em cuidar da saúde do trabalhador”. Ele manifestou satisfação pelo avanço do controle da Covid-19 no Estado de São Paulo.

Renata Matsmoto, chefe da Seção de SST da Superintendência Regional do Trabalho (SRTb/SP) no Estado de São Paulo, destacou a necessidade de as empresas não só investirem em gestão de segurança, mas também olharem indicadores e ouvirem as reflexões dos pesquisadores convidados às reuniões da CPR-SP.

Roque de Camargo Junior, auditor fiscal do Trabalho e subcoordenador do Projeto da Construção da Seção de SST da SRTb/SP, elogiou a abordagem proposta por Simões, que “não trata o ser humano como robotizado e traz a humanização para dentro da SST”. Ele lamentou situações em que a empresa culpa o trabalhador, por exemplo, por não estar usando capacete quando um material caiu sobre a cabeça dele, em vez de investigar o que causou a queda do material.

De acordo com Camargo, alguns gestores já entenderam, a um custo de acidentes graves e complexos, a necessidade de pensar a cultura de segurança baseada em fatores humanos e organizacionais.

Boas práticas 

Marcia Haddad, gerente de Projetos da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), mostrou em sua apresentação as ações do Grupo de Trabalho de SST daquela entidade: disseminação de boas práticas, visitas a obras para conhecer a gestão da segurança, análises das NRs e cursos.

Segundo a gerente, a pesquisa mensal sobre acidentes do trabalho realizada pela Abrainc junto a 926 obras que empregam 74 mil trabalhadores, dos quais 46% de mão de obra própria, aponta investimentos médios de R$ 196 reais em Equipamentos de Protenção Individual por empregado, e de R$ 315 em Equipamentos de Proteção Coletiva, além de uma média de 7 horas mensais de treinamento para cada colaborador. As taxas de gravidade são baixas, tendo se registrado um óbito desde o início da pesquisa, hoje em sua sétima edição.

Márcia também apresentou as ações da Abrainc de combate à Covid-19, algumas delas em parceria com o Seconci-SP, e disse que as empresas associadas são incentivadas a utilizarem os serviços desta entidade.

Lembrando que a responsabilidade pela SST é do dono da obra, Roque de Camargo Junior sugeriu que a Abrainc crie eventos com a participação da fiscalização, para atingir as empresas terceirizadas e evitar irregularidades trabalhistas e de segurança e saúde.

Ishikawa destacou a importância de um check list de verificação das empresas subcontratadas quando elas estiverem trabalhando nas diversas fases da obra, e manifestou satisfação com a atuação da Abrainc em SST.

Exemplo de cima 

Luiz Antonio Chiummo, engenheiro de Segurança da Fiesp, disse em sua apresentação er imprescindível que a direção da empresa dê o exemplo, envolvendo-se na gestão de SST e premiando as boas práticas das subcontratadas. “Culpar engenheiros ou técnicos por acidentes ocorridos é coisa do passado, todos são responsáveis pela SST”, comentou.

Ele informou que aquela federação, junto com Firjan, Fiesc, Sesi-SP, Senai-SP e SEPRT (Secretaria Especial de Previdência e Trabalho), assinaram um Termo de Cooperação Técnica para o desenvolvimento de ações conjuntas em SST. A partir de pesquisas feitas no Radar Trabalhista elaborado pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, decidiu-se lançar em breve uma campanha orientativa para se evitar acidentes de grande incidência, em mãos, punhos e dedos.

Consulta pública 

O evento teve a coordenação de José Bassili, gerente de Segurança Ocupacional do Seconci-SP. Ele convidou os participantes a responderem à consulta pública sobre o relatório de AIR (Análise de Impacto Regulatório) que trata da NR 4 (Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho). O texto do relatório pode ser acessado no portal Participa + Brasil.

Roque de Camargo Junior, informou que todas as reuniões do CPR-SP são gravadas e ficam disponíveis no canal do Youtube da Auditoria Fiscal: basta digitar Inspeção do Trabalho no Estado de São Paulo. “Envolver todos os atores que estão ligados à SST é o que nos importa, para que as normas sejam conhecidas e aplicadas”, disse.

Marcos Antonio de Almeida Ribeiro, vice-presidente do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado de São Paulo (Sintesp), instou os participantes a difundirem as informações das reuniões aos colegas nos canteiros de obras. “Para fazer prevenção, é preciso haver união de todos, não basta só os profissionais envolvidos, todos da administração precisam estar focados em SST.”

Sebastião Ferreira, secretário geral do Sintesp, chamou a atenção para a necessidade de se enfrentar a dificuldade de conciliar a pressão das empresas pela produtividade, com a observância das práticas de SST.

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