Comasp comemora seus 21 anos e lança oficialmente a CECarbon

Daniela Barbará

Por Daniela Barbará

Comasp comemora seus 21 anos e lança oficialmente a CECarbon
Bôas, Senra, Tereza, Santos, Helmke

Graças à atuação do Comitê de Meio Ambiente (Comasp), nossas construtoras avançam cada vez mais em temas como recuperação de solos contaminados, gerenciamento correto dos resíduos, eficiência energética, conservação e reuso de água, uso de madeira certificada. Diferentemente do que muitos imaginam, a indústria da construção hoje tem um papel importante nas ações de preservação ambiental, sustentabilidade e combate às mudanças climáticas.  Assim, o presidente do SindusCon-SP, Odair Senra, deu início às comemorações dos 21 anos do comitê e do lançamento oficial da CECarbon – Calculadora de Consumo Energético e Emissões de Carbono na Construção Civil, no dia 9 de dezembro.

A cadeia da produção de materiais de construção responde por 11% da emissão global de gás carbônico e a utilização dos edifícios representa 30% do consumo de energia global e aproximadamente 28% de emissão global de CO2. Os dados foram compartilhados por Alfredo Eduardo dos Santos, secretário Nacional de Habitação. De acordo com Santos, cada vez mais a ação conjunta do poder público com o setor produtivo da construção civil, academia e instituições internacionais tem se mostrado fundamental para a eficiente implementação de soluções de sustentabilidade. “Quando tratamos dos três pilares da sustentabilidade (social, econômico e ambiental), passamos agora a deixar de ser abstratos e temos uma ferramenta que permitirá visualizar dados concretos”, afirmou.

Para Santos, as parcerias favorecem a disseminação de boas práticas, os avanços tecnológicos, benefícios na busca por resultados relevantes para todo o ciclo de vida das edificações, e também, para o conforto ambiental do usuário na habitação social. “A inovação hoje deve ser o dia a dia de amanhã”.

O secretário destacou também a nova meta do Brasil no Acordo de Paris, a chamada Contribuição Nacional Determinada, que será a neutralidade nas emissões de gases do efeito estufa até 2060, segundo anunciado na véspera pelo Ministério do Meio Ambiente.

Se nós retomarmos o crescimento do setor de uma forma importante, não teremos como gerar energia na mesma capacidade que o mercado demandará, segundo Fábio Villas Bôas, coordenador do Comasp. Para ele, é importante que busquemos ferramentas de gestão que nos permitam a redução de consumo. “Redução essa que além de muito mais eficaz em relação aos custos e ao meio ambiente, permite que a gente tenha o desenvolvimento sustentável por muitos anos”, afirmou.

Um dos focos da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ) no Brasil nas últimas décadas é o desenvolvimento sustentável por meio do setor de energia e consequentemente da Eficiência Energética em Edificações. De acordo com Arnd Helmke, diretor de projetos da GIZ, 2020 trouxe vários desafios e mostrou claramente que juntos será possível resolver os problemas globais e lidar com as questões urgentes das mudanças climáticas e seus efeitos.

A recuperação da crise deve ser verde e contar com o esforço de todos, inclusive o setor público e privado do país todo. “Só podemos gerir aquilo que podemos medir. Assim, para o desenvolvimento sustentável na indústria da construção é fundamental que o setor tenha meios para medir dados básicos de consumo de energia e de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) nas suas obras, com uma ferramenta de gestão com banco de dados”, informou Helmke.

O webinar contou também com a participação virtual de diversos nomes relevantes, que deixaram seus depoimentos sobre os trabalhos e parcerias desenvolvidos ao longo desses 21 anos do Comasp: Patrícia Iglecias, diretora-presidente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), André Aranha, membro do CTQ e Conselheiro Consultivo e que também já foi coordenador do Comasp, Carlos Alberto de Moraes Borges, vice-presidente de Tecnologia e Sustentabilidade do Secovi-SP, Morenno de Macedo, gerente Executivo de Investimento e Negócios Socioambientais da Caixa Econômica Federal e Estefânia Neiva de Mello, coordenadora do GT Edificações da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras).

21 anos Comasp

Quaresma Filho, Maria Tereza e Vasconcellos

Fundado em 1999, o Comitê do Meio Ambiente do SindusCon-SP (Comasp) era multidisciplinar e composto por 47 empresas e 60 participantes de empresas da construção, consultoria, entidades do governo etc. O comitê propiciava o início de várias discussões que se tornaram soluções efetivas do setor. “Importante ressaltar que inovação deve se tornar uma coisa corriqueira na medida do tempo. Isso só é possível quando se tem um entendimento entre várias partes. O melhor caminho é o consenso. Podemos discordar do que for, mas temos que caminhar para o consenso em prol de todos e do setor como um todo”, destacou Artur Quaresma Filho, primeiro coordenador do Comasp e conselheiro Consultivo Vitalício do SindusCon-SP.

O futuro passa necessariamente pela questão da sustentabilidade, as mudanças climáticas e seus impactos ambientais. Não faz nenhum sentido construir sem estar preocupado com a eficiência energética, gestão de resíduos, desperdícios e uso responsável da água, apontou Francisco Antunes de Vasconcellos Neto, vice-presidente do SindusCon-SP, ao homenagear Quaresma pela criação do Comasp.

Segundo o vice-presidente, os presidentes do SindusCon-SP ao longo dos anos sempre foram muito comprometidos com a atuação do Comasp. “O que nos deixa satisfeitos é que muito do que foi feito foi inovador para aquele momento. Assim, o Comasp sempre teve o respeito das entidades como um fórum comprometido, honesto com seus princípios e objetivos e preocupado com a melhoria como um todo e não apenas para alguns”.

Academia

Maria Tereza e a professora Vanessa

Para tratar do tema Estímulos e Barreiras para Análise de Ciclo de Vida (ACV) em edificações, a professora Vanessa Gomes, assessora do Programa Ambiental das Nações Unidas e docente na Unicamp afirmou que “Até há pouco tempo, não existia outra maneira de fazer a avaliação mais calcada em ciência com maior amplitude sobre o ciclo completo de vida de produtos. Então, apegava-se em alguns dos atributos dos produtos de construção como reciclabilidade, reaproveitamento, renovabilidade e reutilização”.

A medida em que as construções foram ficando mais eficientes, a proporção de impactos incorporados e operacionais vai diminuindo saindo de uma construção convencional, que continha originalmente 20% de impactos incorporados, a uma construção “quasi-net zero”, segundo a professora.  A ACV abrange impactos incorporados e operacionais durante o pré-uso (produção e construção), uso (operação &manutenção) e pós-uso (fim da vida: demolição e possível reciclagem e reutilização).

Vanessa afirmou que entre os principais desafios no Brasil e no mundo estão: bases de dados de inventários, certificações, harmonização de procedimentos, conhecer desempenho de referência e ferramentas para facilitar uso. “Nesse último aspecto, a CECarbon é fundamental e traz uma imensa contribuição para todo o setor”, afirmou Vanessa.

Sustentabilidade e Meio Ambiente

Em relação à recuperação verde, é importante usar a dinâmica da economia verde para dar um salto qualitativo dos produtos e materiais para desenvolver uma indústria competitiva para o futuro, também seguir com as políticas de regulamento e incluir ainda mais os conceitos de ciclo de vida. A opinião é de Philipp Höppner, coordenador da GIZ sobre os instrumentos para avançar na sustentabilidade da construção.

Para os investimentos com verba pública, o coordenador acha importante privilegiar os projetos que cumprem os sistemas existentes de etiquetagem, para dessa forma incluir a avaliação do ciclo de vida no desenvolvimento dos projetos. Mas, é necessário manter um sentido realista sobre as capacidades das indústrias. “Por isso, estamos apoiando as ferramentas. Precisamos de mecanismos de financiamento para trazer futuras poupanças de energia na operação do edifício para a etapa de investimento”.

Em sua opinião, é importante avaliar e discutir as mudanças na política de subsídio por meio da tarifa social porque pode ser muito mais sustentável e economicamente viável subsidiar a qualidade e o conforto da moradia ao invés de incentivar o consumo de energia.

Maria Tereza e Höppner

“Em relação à durabilidade da ferramenta depende muito da base de dados. Temos que introduzir um mecanismo no país como o Environmental Product Declaration (EPD) que vai alimentar as bases de dados para que todos os setores contribuam para termos mais qualidade e competitividade no setor”, afirmou Höppner.

Para Lilian Sarrouf, coordenadora Técnica do Comasp, a maior expectativa é a união dos agentes, que estão envolvidos no assunto, para trazer um resultado unificado que será utilizado por todos. A calculadora brasileira trará informações e indicadores do setor para que possa ser criada uma linguagem própria e se entender a questão da emissão de carbono de uma forma correta, seguindo normas e diretrizes nacionais e internacionais, destacou a coordenadora.

“A CECarbon será um grande repositório de informações para que possamos criar metas e indicadores, que poderão ser usados tanto pelas instituições financeiras, quanto pelos órgãos públicos e por todos os demais agentes da cadeia produtiva. Com um amplo debate durante todo o processo, quando chegamos ao resultado final é muito mais fácil a implementação. Esse é o jeito de trabalhar do Comasp”, destacou Lilian, que capitaneou o projeto, juntamente com a analista de Meio Ambiente do SindusCon-SP, Vanessa Dias.

A calculadora

Lilian, Wagner, Strumpf e Elisa

Apresentada ao público oficialmente no evento, por Daniel Wagner, assessor Técnico da GIZ, a CECarbon foi desenvolvida para o cálculo de emissão de gases estufa e consumo energético das edificações, em uma parceira do SindusCon-SP com a GIZ e a Secretaria Nacional de Habitação, e com o apoio das empresas associadas Barbara, Conx, Dox, Imangai, MRV, Plano & Plano, Tegra, TPA e Trisul. Francisco Antunes de Vasconcellos Neto recebeu oficialmente a CECarbon da GIZ e a partir deste lançamento, o SindusCon-SP passa a ser o responsável pela operacionalização da calculadora.

Parâmetros

Segundo Roberto Strumpf, diretor da Pangea Capital, a CECarbon é uma ferramenta acessível e confiável para o setor que irá auxiliar na formação de base de dados para o setor de edificações no Brasil e na integração com os procedimentos do setor público. “A CECarbon permite um processo de gestão sustentável, com base em evidências”.

Entre os parâmetros mensurados estão emissão de gases de efeito estufa medida em toneladas métricas de dióxido de carbono e consumo energético (tCO2e) ou energia embutida medida em mega joules (MJ). Ela oferece resultados desde a concepção até a entrega da obra, levando em consideração as fases do Produto e da Construção, o que equivale ao intervalo de A1-A5 da Norma CEN TC 350. “Os resultados são fundamentais para o planejamento estratégico, mas devem ir além. Assim, estão alinhados com as principais iniciativas globais de reporte e transparência”.

A ferramenta é dividida em 10 etapas construtivas com 85 fatores de emissão envolvendo diferentes materiais e operações de obra, o que pode levar a mais de 220 pontos de preenchimento para fazer o cálculo final. “Quanto mais complexa for a obra mais inputs são necessários para que o cálculo seja mais preciso”, afirmou Daniel Wagner, assessor Técnico da GIZ, no lançamento da calculadora.

O preenchimento é feito pelo usuário, que é responsável de veracidade dos dados. “Ela não tem o objetivo de trazer competição, mas sim de melhorar a gestão de todo o setor”.

Por fim, Wagner ressaltou a relevância da participação dos fornecedores no preenchimento dos dados de seus produtos para que o cálculo seja ainda mais efetivo. “Esse é um dos grandes diferenciais da ferramenta que pode ser usada como uma vantagem competitiva para os fornecedores que atuam no mercado”.

Funcionalidades

Elisa Guida, consultora da Pangea Capital apresentou as funcionalidades da calculadora, destacando que ela permite a inserção de dados em momentos distintos de uma obra, com a possibilidade de três edições. Assim, pode-se comparar dados de projeto com o efetivamente realizado. Além disso, somente acessam a ferramenta os usuários cadastrados pelo administrador de cada obra.

Os dados de entrada referem-se ao compilado de materiais de cada uma das etapas construtivas, além de outros insumos complementares, tais como combustíveis utilizados e serviços como fretes.

As fronteiras de cálculo limitam-se até o momento da entrega da obra, não considerando as emissões e o consumo energético referentes à operação e ao final da vida útil da edificação.

O parâmetro de emissões refere-se ao conjunto de gases de efeito estufa (CO2, CH4, N2O, CFCs, PFCs, SF6), medidos em toneladas métricas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e).

Todas as informações sobre a calculadora estão disponíveis no site www.cecarbon.com.br

O encontro foi mediado pela jornalista Maria Tereza Gomes. A íntegra do evento está disponível aqui.

Apoiaram o evento: ABECE – Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural, ABRAINC – Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, ABESC – Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem, ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABRAVA – Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento, APEMEC – Associação de Pequenas e Medias Empresas de Construção Civil do Estado de São Paulo, APEOP – Associação para o Progresso de Empresas de Obras de Infraestrutura Social e Logística, CBH-AT– Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto do Tietê, ABRASIP – Associação Brasileira de Engenharia de sistemas prediais, ABECIP – Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança, ABRAMAT-  Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção, Abrinstal – Associação Brasileira pela Conformidade e Eficiência das Instalações, AsBEA– Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura, AESAS – Associação Brasileira das Empresas de Consultoria e Engenharia Ambiental, CB002, GBC BRASIL- Green Building Council Brasil, CBCS – Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, Cetesb – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, SECOVI-SP- Sindicato da Habitação, Sindinstalação – Sindicato da Indústria de Instalações Elétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias do Estado de São Paulo.

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