Aperfeiçoar ensaios para o atendimento à Norma de Desempenho

Rafael Marko

Por Rafael Marko

Aperfeiçoar ensaios para o atendimento à Norma de Desempenho

Uma série de propostas aos laboratórios, para aperfeiçoamento dos ensaios de materiais e sistemas construtivos, visando ao cumprimento da Norma de Desempenho de Edificações (NBR 15575), bem como para a compreensão dos resultados desses ensaios por parte dos projetistas e coordenadores de projetos das construtoras. Foi o que apresentou a engenheira Maria Angelica Covelo Silva, sócia-diretora da NGI – Núcleo de Gestão e Inovação, aos coordenadores da Rede de Serviços de Desempenho Habitacional (RSDH), em reunião com entidades da cadeia produtiva da construção, no dia 6 de fevereiro, no SindusCon-SP.

Criada em 2015, a RSDH reúne 24 laboratórios de ensaios de 11 instituições, para apoiar as empresas no atendimento à Norma de Desempenho. Pelo SindusCon-SP, participaram os vice-presidentes Jorge Batlouni e Yorki Estefan; o coordenador do CTQ (Comitê de Tecnologia e Qualidade), Fabio Villas Bôas (também coordenador do CB-002- Construção Civil da ABNT), e o membro e ex-coordenador do CTQ, Renato Genioli.

A reunião contou ainda com representantes de: ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), Afeal (Associação Nacional dos Fabricantes de Esquadrias de Alumínio), Anicer (Associação Nacional da Indústria Cerâmica), Associação Bloco Brasil, Associação Brasileira do Drywall, IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), Redetec (Rede de Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro), Secovi-SP (Sindicato da Habitação), Sinaprocim (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos de Cimento), Universidade Federal de Goiás e Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Resistência ao fogo

Em sua apresentação, Maria Angelica observou que os critérios que devem atender as vigas e os entrepisos de acordo com a Norma de Desempenho são mais restritivos que os previstos na NBR 15200 e na Instrução Técnica (IT) 08 do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, para reduzir o TRRF (Tempo Requerido de Resistência ao Fogo) nos edifícios mais altos.

Adicionalmente, prosseguiu, há requisitos e critérios confusos nas ITs dos bombeiros e das normas técnicas da ABNT; em alguns estados os bombeiros não têm requisitos de resistência ao fogo e em algumas cidades essas exigências estão nos Códigos de Obras; os dados da IT 09 e de outros estados estão defasados em relação a ensaios recentes.

Além disso, há divergências entre laboratórios quanto aos métodos e características do forno de ensaio; os relatórios de ensaio caracterizam insuficientemente as amostras, os componentes e materiais para permitir este trabalho, como blocos, argamassas e tipo de preenchimento de juntas; as normas ABNT são insuficientes para que os métodos de ensaios previstos nelas sejam realmente uniformes entre diferentes laboratórios; já foram realizados muitos ensaios, mas não há um trabalho de pesquisa sobre o comportamento de cada sistema em relação às variáveis que definem sua resistência ao fogo.

A engenheira apresentou uma série de propostas, entre as quais: esclarecer, com terceira parte especialista, quais os efeitos das divergências entre os laboratórios de ensaios e qual é o método correto; estudar e avaliar as normas de métodos de ensaios, verificando se estão de fato alinhados às normas internacionais; elaborar protocolos completos e com elevado grau de precisão sem dar margem para diferenças entre laboratórios; e ensinar os profissionais a interpretar e aplicar os resultados na especificação e projeto.

Outras providências, a seu ver, seriam: uma avaliação das variáveis que influem sobre a resistência ao fogo de elementos construtivos de vedação com e sem função estrutural; um levantamento de mercado de revestimentos de pisos, paredes e de sistemas de forros que ainda não têm caracterização de reação ao fogo, e um esforço setorial para que todos os fabricantes caracterizem seus produtos.

Desempenho acústico

Maria Angelica também apontou discrepâncias nos ensaios e nas avaliações de desempenho acústico, como: o grande número de ensaios realizados em campo e laboratório; a ausência de planos de ensaios orientativos aos contratantes resultando em mais ensaios do que seria necessário; a grande variabilidade em métodos de realização de ensaios e, portanto, de resultados; discrepâncias entre estimativa e resultado medido na obra, criando incerteza sobre softwares não validados; ensaios executados sem o controle das variáveis que influem, e ausência de conclusões sobre comportamento dos sistemas e variáveis de influência.

Também neste ponto a engenheira apresentou propostas detalhadas tanto para ensaios de laboratório como para os de campo; sugeriu o aperfeiçoamento dos relatórios e a validação de softwares tendo em vista o comportamento de materiais e equipamentos utilizados no país, e ensinar aos profissionais como se atingem os resultados necessários em projeto e obra.

Durabilidade

Neste quesito, Maria Angélica propôs aperfeiçoamento do ensaio de choque térmico, a melhora de ensaios de durabilidade como exposição aos raios UV para revestimentos e à exposição a dióxido de enxofre e outros elementos, e o apoio à indústria dos sistemas de vedações, pisos e coberturas para avaliação de durabilidade e estimativa de vida útil.

Governança

Com relação à governança da Rede de Serviços de Desempenho Habitacional, a consultora propôs a criação de: mecanismo com terceira parte especialista para mediação e para dirimir demandas de clientes ou divergências entre os laboratórios; um Código de Conduta e de estrutura de avaliação de integridade e avaliação de conformidade a este Código; e um Conselho de Clientes para avaliação, retroalimentação, proposição de prioridades de serviços e de pesquisa.

A consultora ainda chamou a atenção para a necessidade de haver um planejamento de ações, prazos e coordenação com as entidades clientes.

Contribuições

Nos debates que se seguiram, Yorki Estefan destacou a importância da divulgação das iniciativas da RSDH e colocou o site do SindusCon-SP à disposição para divulgá-las. Renato Genioli chamou a atenção para a importância da padronização dos ensaios e da elaboração dos protocolos.

Villas Bôas destacou a importância de se criarem protocolos que reflitam o que as normas determinam, dando a segurança jurídica para as construtoras. Sugeriu que a Rede promova o atendimento completo desses protocolos. E sugeriu que os fabricantes se empenhem na produção de sistemas com componentes bem identificados, que reduzam as possibilidades de erros em sua montagem nas obras.

Conclusões

Os representantes da RSDH relataram que os trabalhos para padronização dos ensaios avançaram e que deverão sair os protocolos de resistência ao fogo e de acústica após um encontro marcado para março. Informaram que vão trabalhar no aperfeiçoamento dos relatórios dos ensaios e que vão enviar a minuta final para apreciação das entidades da cadeia produtiva, atendendo a uma sugestão de Maria Angelica.

A Rede se propôs também a produzir vídeos informativos e analisar a validação dos softwares. E concordaram com outra sugestão da consultora, para a realização de um workshop com a cadeia produtiva, para avaliar a demanda, buscando realizar essa tarefa de forma contínua.

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